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domingo, 25 de novembro de 2012

A Bíblia na vida e na pastoral da Igreja


“Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça. Assim, a pessoa que é de Deus estará capacitada e bem preparada para toda boa obra” (2Tm 3,16-17).
Ultimamente os pastores da Igreja têm conclamado todos os católicos a fazerem da Sagrada Escritura a referência para sua vida e sua ação pastoral. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) para os anos 2011 a 2015, afirmam: “Alimentando, iluminando e orientando toda a ação pastoral, a Bíblia transborda para a totalidade da existência de pessoas e grupos, tornando-se luz para o caminho (cf. Sl 119,105)” [DGAE 29].
Esta afirmação insiste no fato de que a Palavra de Deus que encontramos na Sagrada Escritura alimenta, isto é, nutre, sustenta, fortalece nosso agir, dá-nos aquilo de que precisamos para nosso caminho como discípulos-missionários de Cristo. Também ilumina, clareia, mostra a estrada. E além do mais, guia o nosso agir como bússola que norteia nossa trilha. Alimentar, iluminar e orientar são três funções da Bíblia na ação pastoral da Igreja, a comunidade de fé.
Como é bom recordar que pastoral deriva da imagem do pastor e se inspira no modo de agir de Deus: “Procurarei a ovelha perdida, reconduzirei a desgarrada, enfaixarei a quebrada, fortalecerei a doente e vigiarei a ovelha gorda e forte. Vou apascentá-las conforme o direito” (Ez 34,16). É esta a imagem ideal do pastor que nossa ação pastoral é chamada a refletir.
O Salmo 23 é uma oração de confiança absoluta no Senhor como pastor: “O Senhor é meu pastor, nada me falta. Ele me faz descansar em verdes prados, a águas tranqüilas me conduz. Restaura minhas forças, guia-me pelo caminho certo...”. O salmista confia porque sabe, por experiência, que Deus ama e cuida.
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10,11). Eis aí a expressão máxima de ação pastoral: dedicar a vida ao serviço a exemplo do Senhor: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” ().
Nossa ação pastoral será frutuosa na medida em que nos deixarmos conduzir pela Palavra de Deus na Sagrada Escritura, que é útil para instruir, argumentar, corrigir e educar, como nos diz a segunda carta a Timóteo. Ela nos preparará para exercemos nossa missão pastoral com segurança, competência, mística, dedicação e alegria.
Estejamos atentos para não confundir os frutos da ação pastoral com o sucesso, os resultados grandiosos, que nos enchem de orgulho e satisfação. Nossa missão na pastoral é lançar a semente. Os frutos da semente dependem do Senhor da messe. O apóstolo Paulo já havia advertido os coríntios: “[...] A cada um o Senhor deu sua tarefa: eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. [...] Importante é aquele que faz crescer: Deus. [...] Pois nós somos colaboradores de Deus, e vós, lavoura de Deus, construção de Deus” (1Cor 3,5-9).
Este é o caminho que a Sagrada Escritura nos aponta para realizar nossa ação pastoral. Não nos preocupemos com os resultados, mas com a fidelidade à nossa missão, inspirando-nos no Senhor, o bom pastor.

Pe. Videlson Teles de Meneses
Coordenador da Animação Bíblica da Pastoral da Arquidiocese de Aracaju-SE

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

FESTA DO NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO (25.11.12)


Jo 18, 33b-37

“Todo aquele que é da verdade, escuta a minha voz”

Como é de costume na Igreja Católica, hoje, o último domingo do Ano Litúrgico, celebra-se a festa de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. A festa foi estabelecida na época dos governos totalitários nazistas, fascistas e comunistas, nos anos antes da Segunda Guerra, para enfatizar que o único poder absoluto é de Deus. Nos dias de hoje, em que milhões padecem as conseqüências de um novo tipo de totalitarismo disfarçado, o do poder econômico inescrupuloso, torna-se atual a inspiração original da festa – que Deus é o único Absoluto. Em um mundo que não é ateu, mas idolátrico, pois presta culto ao lucro, a festa de hoje nos desafia para que revejamos as nossas atitudes e ações concretas – para descobrir o que é para nós, na verdade, o valor absoluto das nossas vidas.
O texto é tirado da paixão segundo João – o diálogo entre Jesus e Pilatos sobre a verdadeira identidade de Jesus. Com a ironia que lhe é típico, João faz com que Pilatos – o representante do poder absoluto da época, o Império Romano - apresenta Jesus como Rei, o que ele é na verdade, mas não da maneira que Pilatos possa entender. O Reino de Jesus é o oposto do Reino do Império Romano – não é opressor, nem injusto, nem idolátrico, mas o Reino da justiça, fraternidade, solidariedade e partilha , o Reino do Deus da Vida.
É exatamente por ter semeado este Reino que Jesus deve morrer – aliás não morrer, mas ser matado, o que é diferente. Pilatos – como acontece nos outros Evangelhos também – demonstra isso quando ele deixa claro quem entregou Jesus, pedindo a sua morte. Não foi o povo, mas os sumos sacerdotes que o entregaram (v. 35). É importante entender o que isso significa, pois se Jesus foi matado, houve algum motivo, e houve alguém que o matasse. Os sumos sacerdotes eram, no tempo de Jesus, todos nomeados pelos romanos, dentro do partido dos saduceus, o partido da elite jerosalemita, donos de terras e do comércio, e chefes do Templo. OTemplo funcionava como Banco Central, centro de arrecadação de impostos, e lugar de câmbio monetário, uma vez que não se aceitava nele a moeda corrente. Jesus, portanto, foi assassinado pelo poder político, econômico e religioso,
coniventes com o poder imperialista, representado por Pilatos. Pois o Reino de Deus se opõe frontalmente com qualquer reino opressor, como era o de Roma.
A realidade vivida por Jesus continua hoje. O seguimento de Jesus, na construção de um Reino de justiça e paz, do shalôm de Deus, necessariamente vai entrar em conflito com os reinos que dependem da exploração e da injustiça. Normalmente esses poderes primeiro vão tentar cooptar a igreja, para que, em lugar de ser voz profética diante das injustiças, torne-se porta-voz dos valores desses reinos. Não faltarão incentivos, monetários e outros, para que as Igrejas caiam nesta cilada. Por isso, como nos advertiram os textos nos últimos domingos, é mister ficarmos sempre vigilantes, para verifiquemos se a nossa vida prática está mais de acordo com o Reino de Deus ou o reino de César.
Para João, Jesus traz a grande crise da história. Diante da verdade, que é Ele, todos têm que se posicionar. Ele, como todo profeta, não causa a divisão, mas desmascara a divisão que existe dentro da sociedade, a divisão entre o bem e o mal, entre um projeto da morte e um projeto da vida, uma divisão que permeia todos os elementos da sociedade. Diante dele, não há lugar para meio-termo - todos têm que optar. Por isso, a nossa festa de hoje, longe de ser algo triunfalista, nos desafia para que façamos um exame de consciência – tanto individual como eclesial e comunitário - para verificar se o nosso Rei é realmente Jesus, ou se, mesmo de uma maneira disfarçada ou inconsciente, continua sendo César!


Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br


terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Animação Bíblica da Liturgia




A Constituição Dogmática Dei Verbum, do Concílio Vaticano II (1962-1965), afirma que “a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras, da mesma forma como o próprio Corpo do Senhor, já que, principalmente na Sagrada Liturgia, sem cessar toma da mesa tanto da palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo o pão da vida, e o distribui aos fieis” (DV 21).
Historicamente, porém, constatamos que a reverência em relação à Eucaristia é muito maior. Há um cuidado especial em relação à presença de Jesus no Santíssimo Sacramento que não se verifica quanto à presença de Jesus, a “Palavra que se fez carne”, na Sagrada Escritura. A Bíblia, em geral, não tem um lugar de honra e destaque em nossas igrejas. E, muitas vezes, não se trata a Palavra sagrada com veneração, substituindo o Lecionário por folhetos e livros descartáveis.
Penso que podemos começar a animação bíblica da vida e da pastoral de nossas comunidades cristãs pela liturgia. O Concílio Vaticano II enfatizou a importância da Sagrada Escritura, incluindo em cada celebração sacramental a leitura e explicação da Palavra do Senhor. Precisamos valorizar todas as celebrações litúrgicas e a proclamação da Palavra de Deus que está prevista em cada uma delas: “Cristo está presente pela sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na igreja” (Constituição Sacrosanctum Concilium, n. 7).
Como seria bom que o Ministério da Palavra fosse apreciado e contasse com pessoas devidamente preparadas. Aqui cabe mais uma vez uma comparação com a Eucaristia. Que bom termos ministros extraordinários da comunhão eucarística bem preparados, que aprendem a exercer sua missão com amor e competência. Não seria adequado fazermos o mesmo quanto à proclamação da Palavra na liturgia?
O primeiro passo é preparar a assembléia litúrgica para escutar a Palavra de Salvação que nos é dirigida em cada celebração sacramental. Uma atitude de reverência à voz do Senhor que nos fala se manifesta no silêncio atento: “E Samuel não deixava sem efeito nenhuma das palavras do Senhor” (ver 1Sm 3,19).
Faz-se necessário preparar leitores aptos a anunciar a Palavra de Deus nas celebrações. Como é triste ver pessoas sem a devida preparação ler o texto bíblico sem expressão, sem vida. Onde fica o anúncio da Palavra do Senhor, quando não compreendemos palavra alguma? Ler não é decifrar e juntar letras, palavras e frases! Ler é compreender! Só pode ler bem em público quem entende o que lê. O papa Bento XVI, na exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, quando trata da proclamação da Palavra e do ministério do leitorado, afirma: “A formação bíblica deve levar os leitores a saberem enquadrar as leituras no seu contexto e a identificarem o centro do anúncio revelado à luz da fé. A formação litúrgica deve comunicar aos leitores uma certa facilidade em perceber o sentido e a estrutura da liturgia da Palavra e os motivos da relação entre a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística. A preparação técnica deve tornar os leitores cada vez mais idôneos na arte de lerem em público tanto com a simples voz natural, como com a ajuda dos instrumentos
modernos de amplificação sonora” (VD 58). Biblistas, liturgistas e técnicos em comunicação social podem contribuir na preparação de todos os ministros da Palavra para atuar nas diversas celebrações: batismo, eucaristia, matrimônio... Sem esquecer as celebrações da Palavra.
O cuidado com a homilia também foi assunto do Sínodo sobre a Palavra de Deus na Vida e na Missão da Igreja, realizado em outubro de 2008. O papa retomou este assunto na Verbum Domini, n. 59: “pensando na importância da palavra de Deus, surge a necessidade de melhorar a qualidade da homilia; de fato, esta constitui parte integrante da ação litúrgica, cuja função é favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na vida dos fieis. A homilia constitui uma atualização da mensagem da Sagrada Escritura”.
Que o Senhor nos inspire e guie nossos passos, a fim de que tenhamos coragem de realizar a conversão pastoral de que necessitamos para colher os frutos no devido tempo: “... a Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium, n. 10).

Pe. Videlson Teles de Meneses
Coordenador da Animação Bíblica da Pastoral da Arquidiocese de Aracaju-SE

domingo, 18 de novembro de 2012

Os profetas e as profetisas são pessoas antipáticas




José Lisboa Moreira de Oliveira*


As ciências da religião nos mostram que nas culturas de todos os tempos sempre existiram os chamados grupos liminares. Estes grupos são formados por uma minoria de pessoas que, em alguns casos e ocasiões, chega até a ser reduzida a um indivíduo solitário (1Rs 19,10). Os grupos liminares se colocam no limiar, ou seja, na fronteira entre o real e o ideal. Costumam provocar as culturas, os grupos humanos, as sociedades e as comunidades. Eles, normalmente, chamam a atenção para a necessidade de fidelidade a valores que são pilares das sociedades. Por isso denunciam com veemência os desmandos, a corrupção e o afastamento das comunidades dos seus valores fundamentais. De um modo geral acusam as autoridades e lideranças, inclusive religiosas, responsabilizando-as pelo caos existente.
No judaísmo, no cristianismo e no islamismo esta função foi e ainda é exercida de modo particular pelos profetas e pelas profetisas. São eles e elas que se colocam nas fronteiras e esbravejam contra todas as formas de corrupção dos sistemas políticos e religiosos. Enfrentam as autoridades e apontam seus erros e suas mazelas. Por essa razão os profetas e as profetisas são pessoas antipáticas. Ninguém gosta delas, especialmente aqueles e aquelas que estão no poder. De um modo geral os profetas e as profetisas são perseguidos, caluniados, maltratados, banidos e até mesmo assassinados. São vistos como pessimistas e vaticinadores de desgraças, gente que só enxerga o que não está dando certo, incapazes de ver “as coisas boas”.
No judaísmo o representante clássico deste modelo de profeta é Miquéias, detestado pelo rei de Israel porque nunca profetizava coisas boas, mas somente desgraças (1Rs 22,1-40). Porque era sincero e mostrava a realidade nua e crua, o profeta foi insultado, maltratado e preso. Mas, além dele, se poderia dizer o mesmo de praticamente todos os outros profetas. Será suficiente citar alguns exemplos. Elias, que denuncia o conluio entre falsa religião e poder corrupto; que satiriza e ridiculariza os cantos e as danças religiosas histéricas (1Rs 18 – 19). Isaías, chamado a profetizar dentro do templo, a provocar cegueira, surdez e o embotamento do coração até que as cidades sejam destruídas e os campos devastados (Is 6,8-12). Jeremias, convocado por Javé a postar-se na entrada do templo para denunciar a falsidade da religiosidade do povo (Jr 7,1-28). Amós, que denuncia, rugindo como um leão, a exploração dos pobres pelos ricos, a justiça corrupta, o lucro fruto do roubo e a conivência do sistema religioso com tudo isso. Todos eles sofreram calúnias, perseguição e represálias.
Se nos voltamos para o cristianismo, vemos que ele nasce do sangue derramado do profeta Jesus que se recusou terminantemente a compactuar com a corrupção e os desmandos do poder religioso e civil. Foi preso, torturado e assassinado. Em vinte séculos de história cristã a lista dos mártires, das profetisas e dos profetas assassinados é longa e abarca praticamente todos os períodos. De uma forma geral os profetas e as profetisas do cristianismo sofreram perseguição e até o martírio por parte daqueles e daquelas que pertenciam à própria Igreja.
Em nossa época os profetas e as profetizas escasseiam. São raridades e verdadeiras pérolas preciosas que, de vez em quando, surgem em algum canto da terra. Mas, logo que surgem, são vistos com antipatia, perseguidos, maltratados e até assassinados. A nossa época, a nossa sociedade, as atuais Igrejas, continuam não suportando vozes proféticas. Quando não são caladas
para sempre, elas são abafadas. Aqui na América Latina e Caribe alguns desses profetas e profetisas, ainda vivos e resistentes, são ridicularizados e discriminados. Alguns recebem títulos “honoríficos” como “chorólogos” ou “viúvos e viúvas da Teologia da Libertação”. Grandes profetas, conhecidos internacionalmente, como, por exemplo, Irmã Dorothy, Padre Josimo, Dom Oscar Romero, Dom Hélder Câmara, o Cardeal Martini, José Comblin, Leonardo Boff, Gustavo Gutiérrez, José Antonio Pagola, André Torres Queiruga, são colocados no ostracismo pela oficialidade, desqualificados e até mesmo punidos por sua ousadia e coragem profética. Lembro que José Comblin foi tido, no final de sua vida, como o “gagá da libertação”. Escutei alguém dizendo que o Cardeal Martini, no final da vida, tinha se tornando um “demente” por causa do mal de Parkinson. Por isso passou a falar “bobagens”, como, por exemplo, a afirmação de que a Igreja Católica estaria atrasada em pelo menos 200 anos.
Nenhuma novidade. O autêntico profeta não pode ser tratado de outra forma. Do contrário, seria um falso profeta: “Aí de vocês, se todos os elogiam, porque era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas” (Lc 6,26). Neste sentido, os profetas e profetisas de hoje, como aqueles e aquelas de ontem, se sentem bem à vontade quando são rotulados e discriminados pelos que compõem o sistema religioso e político injusto e corrupto. Não que gostem de sofrer. Não são e nem querem ser masoquistas. Porém, no momento em que, motivados pela fé e pela mística, decidem profetizar têm consciência de que o ódio, a calúnia e a perseguição serão companheiros inseparáveis de sua missão profética.
A Bíblia oferece critérios bem precisos para se distinguir o verdadeiro do falso profeta. O falso profeta está sempre a favor do sistema religioso e político. Ele é um árduo defensor dos dogmas, das autoridades religiosas e civis. É bajulador, subserviente, hipócrita, legalista e jamais se afasta dos cânones oficiais. Prediz sempre o sucesso e só fala de coisas boas. Porém, o verdadeiro profeta é autêntico, livre, independente, chama para a realidade e só se curva diante do projeto de Deus. Não tem medo de ser caluniado, perseguido, preso e ridicularizado (1Rs 22,13). O autêntico profeta não se incomoda de ser expulso da religião oficial e de ser tratado como herético e heterodoxo (Am 7,10-17). Ele sabe que tudo isso faz parte do seu ministério profético.
No momento atual os falsos profetas circulam livremente pela grande mídia, inclusive a mídia católica. As câmaras de TV, as páginas das grandes revistas, as colunas dos jornais e as editoras lhes dão sempre espaço. Quando morrem são incensados, exaltados e elevados à condição de heróis do povo. A grande mídia, ligada a grandes grupos econômicos e corruptos, não para de lhes fazer elogios. Tudo como sempre foi. Quanto ao verdadeiro profeta, ele não tem vez. É execrado ou completamente ignorado. Mas sabe-se que sua mensagem não será inútil, pois, mesmo morrendo, como a semente lançada na terra, produzirá frutos que revolucionarão o mundo (Jo 12,24-25). Por isso a vida e a voz dos profetas e das profetisas continuam a alimentar a esperança da humanidade.


[* Filósofo, teólogo, escritor, conferencista e professor universitário. Autor do livro Qual o significado da vocação e da missão, por Paulus Editora]

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”


TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM (18.11.12)

Mc 13, 24-32

O texto de hoje nos apresenta diversas dificuldades de interpretação, pois está saturado com conceitos apocalípticos, referências veladas a possíveis eventos históricos e referências tiradas de escritos do tempo do Antigo Testamento, muitas dos quais desconhecidos por nós. Porém, a sua mensagem central fica clara – o triunfo final do Filho do Homem, mandando por Deus para estabelecer o seu Reino. A linguagem vetero-testamentário de sinais cósmicos, a figura do Filho do Homem e a reunião dos eleitos de Deus são unidas em um contexto novo, em que a vinda escatalógica de Jesus como Filho do Homem se torna o evento central. A sua vinda gloriosa no fim dos tempos servirá como prova da vitória de Deus – e a expectativa desta chegada serve como base da vigilância paciente que é recomendada aos discípulos ao longo de todo o Discurso Escatalógico de Marcos.
Os sinais cósmicos que antecederão o fim fazem referência a textos do Antigo Testamento: Is 13, 10, Ez 32,7; Am 8,9; Jl 2,10.31; 3,1-5; Is 34,4; Ag 2,6.21; Mas em nenhum lugar no Antigo Testamento se referem à vinda do Filho do Homem – é uma novidade do Evangelho. A lista desses sinais é uma maneira de dizer que toda a citação assinalará a sua vinda final. A descrição da chegada do Filho do Homem, rodeado das nuvens, é tirada do livro de Daniel 7,13, mas aqui se refere claramente a Jesus e não à figura angélica “em forma humana” do livro apocalíptico de Daniel. A ação de Jesus em reunir os eleitos é o oposto de Zc 2,10. Este reunir-se dos eleitos do seu povo por parte de Deus se encontra em Dt 30,4; Is 11,11.16; 27,12. Ez 39,7 etc. – mas nunca no Antigo Testamento é o Filho do Homem que faz esse trabalho.
A segunda parte do texto consiste em uma parábola (vv. 28-29), um ditado sobre a hora do fim (v 30), sobre a autoridade de Jesus ( v. 31) e de novo sobre a hora (v 32). Nem sempre fica claro a que se refere – o que se fala sobre essas coisas” acontecerem “nessa geração” tem como contrabalanço o v. 32 que diz que somente Deus sabe a hora exata. A parábola sobre os sinais claros da chegada do fim (vv. 28-29) tem em contraposição a parábola da vigilância constante (vv. 33-37). Mas continua clara a mensagem básica – a vitória final do projeto de Deus, concretizada através de Jesus, o Filho do Homem. Mas a
certeza dessa vitória não dispensa a atitude de vigilância constante por parte dos discípulos, para que não se desviem do caminho.
Pode parecer confuso o nosso texto – e para nós hoje, de uma certa forma o é. Mas, inserido no contexto do Discurso Escatalógico (referente aos tempos finais) do Evangelho, nos traz uma mensagem de esperança e uma advertência. A esperança nasce do fato de que a vitória de Deus é garantida – um elemento fundamental em todo apocaliptismo. A advertência está na necessidade de vigilância constante, para que não percamos a hora do Filho. Em um mundo de desesperança e falta de ânimo por parte de muitos, o texto convida nós, os discípulos, à uma atitude positiva que nos leva a um engajamento maior em prol da construção do Reino entre nós. Mas também nos desafia para que estejamos sempre vigilantes para não sermos cooptados pela sociedade vigente, opressora e consumista, que muitas vezes se baseia em princípios contrários aos do Reino de Deus. As palavras de Jesus têm um valor permanente, para que possamos julgar as diversas propostas de vida que o mundo nos apresenta. “O céu a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.


Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Decadência da Igreja Católica?




Eduardo Hoornaert*

Ouve-se falar hoje, aqui e acolá, em decadência da igreja católica. Efetivamente, há sinais de que essa igreja não esteja mais conseguindo corresponder aos anseios dos tempos em que vivemos, algo que a médio ou longo prazo pode significar o fim do projeto formulado 1500 anos atrás por Agostinho em sua obra ‘A cidade de Deus’, que está na base da igreja católica tal qual a conhecemos hoje. O grande teólogo apresentou, no século V, um dilema: ou você vive e milita na ‘cidade de Deus’, ou pertence à 'massa damnata' marcada pelo 'pecado original'. O projeto funcionou por longos séculos e agora chega ao fim.
O historiador inglês Arnold Toynbee formulou uma lei da história que me parece interessante para a discussão. É a ‘lei do desafio e resposta’, exposta no final de seu livro monumental ‘Um Estudo de História’ (Martins Fontes, São Paulo, 1986). Depois de estudar o surgimento, apogeu e declínio de 21 civilizações, Toynbee conclui: todo projeto humano é formulado para responder a determinados desafios, o que faz com que seja necessariamente incompleto, provisório e passageiro. Nenhum projeto humano pode aspirar à eternidade. Ora, escreve Toynbee, o fato de o papado ter reagido negativamente aos esforços de Cavour para unificar a Itália (início século XIX) marca os primeiros sinais da passagem para a lenta decomposição do sistema católico. O papa deixa de pensar no mundo e pensa em preservar seus privilégios. Isso é fatal.
A questão, hoje, consiste em ver se há condições de reformar o modelo, tornando-o capaz de responder aos desafios do momento. Não se pode responder a tudo, há sempre deficiência, mas penso que a atual situação consiste numa inaptidão generalizada.
Comparemos a atitude do papa diante da unificação da Itália (início século XIX) com os rumos que a França tomou no final do século anterior. A revolução francesa constitui um exemplo paradigmático de um projeto que responde de forma apropriada aos anseios do tempo. Dai seu sucesso. Os povos querem ‘liberdade, igualdade e fraternidade’, e a revolução responde positivamente. Uma postura totalmente diferente é a do papa, que vai assumindo sempre mais posturas reacionárias.
Toynbee vê nessa recusa do papa o início da decadência do sistema católico. Por encarnar o poder supremo por tantos séculos, o papado não tem mais sensibilidade diante do que se passa na realidade e isso constitui um sinal de decadência. Seguindo o raciocínio de Toynbee, não se sabe o que pode acontecer com a igreja católica. É possível que ela mude totalmente de feições ou mesmo desapareça do cenário histórico. De qualquer modo, aqui não se trata de um drama. Os projetos passam, a história passa. Os projetos humanos são todos provisórios.
O sonho de Agostinho deu origem a um grande projeto, que moldou o Ocidente. Mas ficou na contramão do desejo de liberdade hoje se manifesta de mil maneiras. Os tempos mudam e isso é bom.
O importante consiste em apoiar as energias positivas que atuam dentro do catolicismo, da mesma forma em que se devem apoiar as forças vivas existentes no candomblé, na igreja universal do reino de Deus, no pentecostalismo e em todos os projetos que procuram trabalhar para melhorar a vida da humanidade.
Enquanto o papa se afasta da vida vivida e se recolhe em seu 'Apartamento' e enquanto o vaticano se vê enredado em escândalos, os cristãos conscientes não enxergam nada de trágico em tudo isso. Só os que gostam de montar uma tragédia grega de paixões pelo poder, intrigas, hipocrisias é que comentam o tempo todo esses noticiários.
Os mais conscientes preferem ocupar-se de outros assuntos. Eles pensam no real drama de nosso mundo de hoje. Hoje, o drama é outro, o desafio é outro. O que importa é que o cristianismo signifique algo para os 50% da população mundial que vive curvada sob pobreza e miséria. No planeta em que vivemos, 25 mil pessoas morrem por dia de inanição e 16 mil crianças de fome. 852 milhões de pessoas passam fome. As fortunas das três pessoas mais ricas do mundo é superior ao PIB de 48 países. Os 5 % mais ricos ganham 114 vezes mais que os 5 % mais pobres. As pessoas que dormem na rua, as 864 favelas do Rio, as 20 a 25 pessoas que morrem por dia de forma violenta, no Rio, e que nem merecem mais uma menção no noticiário. Isso dá vergonha, isso é o drama. Que entre as 20 cidades mais desiguais do mundo, 5 são brasileiras (Goiânia, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Curitiba), eis o que dá vergonha. Que mais de 10 milhões de brasileiros vivem com menos de 39 reais por mês e que a Globo nunca dá esses números, eis a vergonha, eis o apelo para o cristianismo. O drama é que 10% das pessoas que vivem neste país detêm 75% da riqueza que o país produz, que 5 mil famílias (1%) controlam 45% da riqueza do país.



* Padre casado, belga, com mais de 5O anos de Brasil, historiador e teólogo, mais de 20 livros publicados. Dedica-se agora ao estudo das origens do cristianismo

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

“Esta viúva pobre depositou mais do que todos os que depositaram dinheiro”



TRIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO COMUM (11.11.12)

Mc 12, 38-44

No Evangelho de Marcos, Jesus, na sua última semana de vida muita agitada em Jerusalém, também encontra um sinal positivo – o gesto da viúva pobre que depositou duas das menores moedas da época no cofre do Templo! Ela aparece no texto de hoje em contraste com um certo tipo de liderança religiosa daaquele tempo. O texto relata dois acontecimentos (vv. 38-40; vv. 41-44). O primeiro condena os escribas hipócritas, que concretizam tudo que Jesus quer que os seus discípulos evitem Ele adverte contra o sua anseio de ter prestígio e honras (vv. 38b-39) – perigo constante para os líderes religiosos de todos os tempos e de todas as religiões! – e o fato de eles esgotarem os recursos das viúvas, enquanto demonstravam a aparência de piedade (v.40). Embora essa passagem seja muito mais suave do que Mateus 23, também tem sido usada historicamente para atacar o povo judeu. Mas ele não critica todos os escribas e muito menos todos os judeus, mas somente um certo tipo de escriba (vv. 28-34), os que desviavam o verdadeiro sentido do seu serviço religioso.
Na antigüidade, os escribas podiam servir como administradores dos bens das viúvas. Muitas vezes cobravam uma parte dos bens como pagamento – e um escriba com fama de piedade tinha muitas possibilidades de ganhar clientes! Por causa da sua avareza e hipocrisia, esses escribas receberão uma condenação severa no Dia do Juízo, o tribunal mais alto que existe!
Do outro lado, a viúva pobre, embora contribua com quase nada em termos monetários, representa a verdadeira espiritualidade dos seguidores de Jesus. Pois ela contribui com tudo o que ela tinha para viver, e não com o supérfluo! (v.44). Ela simboliza o grupo com a espiritualidade dos “pobres de Javé” - os que depositavam toda a sua confiança em Deus e não nas riquezas nem no poder. Já em outros textos (cf. Mc 10, 17-30) Jesus enfatizou que era difícil para um rico entrar no Reino de Deus – pois facilmente ele confia nas suas riquezas e não no poder de Deus.
A viúva anônima demonstra o fundamento dessa espiritualidade dos “pobres de Javé” - gratuidade e doação total, aliadas à uma confiança absoluta em Deus. Contrastando a sua ação com a atitude dos ricos, Jesus implicitamente condena o sistema do Templo, pois ele explorava os mais pobres, exigindo até a oferta dos seus parcos recursos, para que pudessem ter acesso a Deus! Assim, Jesus mostra que Deus rejeita qualquer religião que
explora e se enriquece às custas dos pobres. Hoje não é nada raro encontrar grupos religiosos que exploram os mais pobres em nome de Deus, com falsos promessas. O texto de hoje nos convida para que nos examinamos a nós mesmos, para verificar se as nossas práticas religiosas estejam revelando o rosto verdadeiro do Deus dos pobres, e para que evitemos totalmente quaisquer projetos – mesmo em nome de Deus – que tiram do mais necessitados o pouco que eles ainda tem. Também somos convidados a evitar os critérios humanos em julgar as pessoas, pois pode acontecer que alguém doe muito, sem que lhe custe nada, pois vem do seu supérfluo, enquanto freqüentemente a “moeda da viúva”, oferecido pelos pobres, tem muito mais valor diante do Senhor. Somos convidados a olhar e enxergar as coisas com os olhos de Deus e não da sociedade materialista e consumista de hoje.


Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

FESTA DE TODOS OS SANTOS (04.11.12)


Mt 5, 1-12a


Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa nos céus”

Esses primeiros versículos de Cap. 5 servem ao mesmo tempo como introdução e como resumo do Sermão da Montanha. Nos apresentam um retrato das qualidades do verdadeiro(a) discípulo(a), que, no seguimento de Jesus, procura viver os valores do Reino de Deus. Basta uma leitura superficial para ver que a proposta de Jesus está na contramão da proposta da sociedade vigente – tanta a do tempo de Jesus, como de hoje. Embora de uma forma menos contundente do que o texto paralelo do “Sermão da Planície” de Lucas (cf. Lc 6, 20-26), o texto de Mateus deixa claro que o seguimento de Jesus exige uma mudança radical na nossa maneira de pensar e viver.
Um primeiro elemento que chama a atenção é o fato de que a primeira e a última bem-aventurança estão com o verbo no presente – o Reino já é dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça – na verdade, as mesmas pessoas, pois os que buscam a justiça são “pobres em espírito”. Eles já vivem a dependência total de Deus, pois só com Ele esses valores podem vigorar. Mas quem luta pela justiça será perseguido – e quem não se empenha nessa luta jamais poderá ser “pobre em espírito”.
As outras bem-aventuranças traçam as características de quem é pobre em espírito. É aflito, por causa das injustiças e do sofrimento dos outros, causados por uma sociedade materialista e consumista. É manso, não no sentido de passivo, mas porque não é movido pelo ódio e violência que marcam a ganância e a truculência dos que dominam, “amansando” os pobres e fracos.
Tem fome da justiça do Reino, não a dos homens, que tantas vezes não passa de uma legitimação oficial da exploração e privilégio, pois freqüentemente as leis são formuladas e aprovadas por esses mesmos grupos dominantes em prol dos seus próprios interesses e benefício. Tem coração compassivo, como o próprio Pai do Céu, e é “puro de coração”, sem ídolos e falsos valores. Promove a paz, não “a paz que o mundo dá” (cf. Jo 14, 27), mas o “shalom”, a paz que nasce do projeto de Deus, quando existe a justiça do Reino. Cumpre lembrar que “Shalôm”não é somente a ausência de briga e conflito explícitos, mas é a presença de tudo que Deus deseja para todos os seus filhos e filhas sem distinção. É a presença do Reino de vida plena!
Mas Jesus deixa clara a conseqüência de assumir esse projeto de vida – a perseguição! Pois um sistema baseado em valores anti-evangélicos não pode agüentar quem a contesta e questiona, algo que a história dos mártires do nosso continente testemunha muita bem. Qualquer igreja cristã que é bem aceita e elogiada pelo sistema hegemônica precisaria se questionar sobre a sua fidelidade à vivência das bem-aventuranças do Sermão da Montanha. O martírio (que na sua raiz significa “testemunho”) é a pedra-de-toque dessa fidelidade. O martírio nem sempre se dá pela morte física, mas muitas vezes pela morte lenta ao egoísmo e às ideologias de dominação, em uma vivência fiel da luta pela justiça do Reino de Deus. É a concretização da declaração de Jesus: “quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga”(Mt 16,24)
A festa de hoje não é tanto para recordamos os nomes e façanhas dos grandes Santos/as conhecidos/as, por valioso que isso possa ser, mas também para que lembremos
de tantos milhões de pessoas, de todas as raças, culturas e religiões, que viviam a santidade no anonimato das suas vidas diárias, na luta de viver na fidelidade aos valores do Reino. O grande milagre que mostra a santidade é a vivência fiel em busca do bem, na dedicação à família, à comunidade e à sociedade, sempre procurando cumprir a vontade de Deus, seja qual for a nossa experiência d’Ele. Se examinarmos as nossas vidas, veremos que já conhecíamos muitas pessoas santas, cujos nomes jamais serão conhecidos, mas que servem como exemplo dos verdadeiros valores para nós. Que a celebração nos anime na busca da vivência fiel dos valores do Evangelho, não em grandes milagres, mas no dia a dia da nossa vocação, seja o que for.


Tomaz Hughes SVD
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