sexta-feira, 31 de maio de 2013

NONO DOMINGO COMUM (02.06.13)

Lucas 7,1-10
“Senhor, eu não sou digno...”


        A nossa leitura de hoje inspirou a frase tão conhecida que usamos na Missa antes da comunhão, “Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa, mas diga uma só palavra e serei salvo” (cf. v.6).  A profissão de fé em Jesus, feita por um desconhecido oficial romano, à beira do Mar da Galiléia, tornou-se a expressão da realidade de quem ousa aproximar-se da mesa eucarística.  É na mesma hora um reconhecimento da nossa fraqueza e também da grandeza e gratuidade de Deus, que supera qualquer falha nossa.
        A história situa-se bem dentro da política lucana de nunca falar mal dos romanos (uma visão bem diferente da do João no Apocalipse).  Lucas é um grego, e tem outra experiência do Império Romano do que os oprimidos judeus da Palestina - uma experiência de opressão e exploração que os levaria a duas guerras sangrentas e desastrosas, de 66/72 d.C e de 132/135 d.C.  Também, o autor quer respeitar os seus destinatários - nas comunidades das cidades gregas do Império - muitos dos quais ligados às instituições romanas e imperiais.
        O oficial na história era pagão, não judeu, mas pertencia ao grupo conhecido como “tementes a Deus”. Isso é, simpatizantes do judaismo, crentes no Deus único, mas não pertencentes oficialmente à religião judaica.  No Império Romano muitos pagãos estavam cansados da idolatria e da imoralidade que marcavam a sociedade, e admiravam o monoteísmo e seriedade ética do judaísmo.  Mas se recusavam a assumir a prática da circuncisão e outros ritos.  O oficial em questão deve ser visto neste contexto.
        Mas ele, embora sendo pagão, manifesta mais fé do que os próprios judeus - a ponto de causar a exclamação de Jesus:
        “Ouvindo isso, Jesus ficou admirado.  Voltou-se         para a multidão que o seguia, e disse : “Eu  declaro a vocês que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé!” (v.9).
Com profundo respeito, ele nem pede que Jesus entre na sua casa - pois tal ação deixaria Jesus ritualmente impuro!  Tem confiança absoluta em Jesus – basta a palavra dele para que a cura se concretize!Aqui temos mais um exemplo do interesse de Lucas em enfatizar o poder da Palavra de Jesus (por exemplo, na versão lucana da cura da sogra do Pedro, Jesus não toca nela, como em Marcos, mas só ameaça a febre, e com a sua palavra, essa deixa  a mulher – Lc 4,39) 
        Um pagão serve de exemplo para a multidão!  Na boca de alguém considerado “impuro” se expressa a mais profunda fé!  Quantas vezes a mesma coisa acontece hoje - pessoas consideradas impuras, ou tolas, ou ignorantes, dão lição de fé a nós, às vezes formados na teologia, praticantes dos sacramentos, estudiosos da religião?  A fé não depende do grau do estudo - é uma atitude profunda que brota da intimidade com Deus.
        É de notar também a prontidão com que Jesus atende o pedido para ajudar o oficial.  Embora esteja consciente que o homem é estrangeiro e pagão, a compaixão faz com que Jesus não se amarra aos limites costumeiros da prática religiosa do seu tempo, mas se prontifica até a entrar na casa de um “impuro”, pois para Jesus, ninguém pode ser taxado de impuro.
        “Senhor, dê-nos a fé do oficial romano, e de muita gente simples e humilde. Diga uma só palavra e a nossa falta de fé será curada! Ajude-nos também a cultivar a compaixão que derruba as barreiras artificialmente criadas por causa da etnia, cultura, religião ou condição de vida.”    


Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br

  

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