FESTA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA (19.08.12)
Lucas
1, 39-45
Para
entender bem a finalidade de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e
nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para
ele, o importante é acentuar o grande contraste, mesmo que haja também
continuidade, entre a Antiga e a Nova Aliança. A primeira está retratada nos
eventos que giram ao redor do nascimento de João Batista, e tem os seus
representantes em Isabel, Zacarias e João; a segunda está nos relatos ao redor
do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a
Antiga Aliança está esgotada - os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa,
Zacarias, sacerdote que duvida do anúncio do anjo, e o nenê que será um
profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem
como símbolos a jovem virgem de Nazaré que acredita e cujo filho será o próprio
Filho de Deus. Mais adiante Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e
Simeão, no Templo, (Lc 2, 25-38), especialmente quando Simeão reza: “Agora,
Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque
meus olhos viram a tua salvação” (2, 29). Por isso, não devemos reduzir a história de
hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua
parenta idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse essa, não teria
colocado versículo 56, que mostra ela deixando Isabel antes do nascimento de
João: “Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa”. É só depois que Lucas trata no nascimento de
João.
Também
não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse
uma viagem tão perigosa como a da Galiléia à Judéia! A intenção de Lucas é
literária e teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas
possam louvar a Deus pela sua ação nas suas vidas, e para que fique claro que o
filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de
cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas
personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro lado,
Maria, José e Jesus.
O
fato que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante
na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no ventre dela, na tradução
da Septuaginta de Gn 25, 22. O contexto, especialmente versículo 43, salienta
que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Com a iluminação do Espírito
Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João - é porque Maria está
carregando o Senhor.
As
palavras referentes à Maria: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o
fruto do seu ventre” (v. 42) fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na
libertação do seu povo: Jael (Jz 5, 24) e Judite (Jd 13, 18). Aqui Isabel louva
a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.
Finalmente,
vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v.
45): “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Maria é bendita em primeiro lugar,
não pela sua maternidade, mas pela fé - em contraste com Zacarias, que duvidou.
Aqui Maria é principalmente modelo de fé.
Podemos
também acrescentar que neste primeiro capítulo nós encontramos as frases da
primeira parte da oração da “Ave Maria”: “Ave Maria” (1, 28); “Cheia de graça”
(1, 28); “O Senhor é convosco” (1, 28); “Bendita sois vós entre as mulheres”
(1, 42); “Bendito o fruto do vosso ventre” (1, 42). Juntos com Isabel, saibamos
honrar Maria, mãe do Senhor, modelo de fé para todos nós! Mas, a fé de Maria -
como, aliás, sempre é na Bíblia - não foi uma adesão somente intelectual a
Deus. Era o assumir do projeto de Deus - justiça, libertação, solidariedade e
salvação integral. Por isso, Lucas põe na boca de Maria o grande Cântico do
Magnificat, atualizando o Canto de Ana, (1 Sm 2, 1-10), cantando a grandeza do
nosso Deus, que se põe ao lado dos humilhados e sofridos, e derruba os
poderosos e prepotentes!
O texto de hoje
nos lembra que Maria era uma mulher lutadora, totalmente comprometida com o
projeto de Deus para um mundo fraterno. Se ela estivesse entre nós hoje, sem
dúvida ela - como também Jesus - estaria nos movimentos e pastorais sociais,
lutando pela vida digna de todos e celebrando com os irmãos e irmãs a fé no
Deus de Justiça, Libertação e Salvação.
Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br
SUA EXPLICAÇAO SOBRE O ANIVERSÁRIO DE NOSSA SENHORA ESTÁ MUITO INTERESSANTE!!! SEGUINDO AQUI!!!
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