sexta-feira, 17 de agosto de 2012

“Você é bendita entre as mulheres"

FESTA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA (19.08.12)

Lucas 1, 39-45



        Para entender bem a finalidade de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste, mesmo que haja também continuidade, entre a Antiga e a Nova Aliança. A primeira está retratada nos eventos que giram ao redor do nascimento de João Batista, e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João; a segunda está nos relatos ao redor do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada - os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa, Zacarias, sacerdote que duvida do anúncio do anjo, e o nenê que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a jovem virgem de Nazaré que acredita e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão, no Templo, (Lc 2, 25-38), especialmente quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz. Porque meus olhos viram a tua salvação” (2, 29).  Por isso, não devemos reduzir a história de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parenta idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse essa, não teria colocado versículo 56, que mostra ela deixando Isabel antes do nascimento de João: “Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa”.  É só depois que Lucas trata no nascimento de João.
        Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a da Galiléia à Judéia! A intenção de Lucas é literária e teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela sua ação nas suas vidas, e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro lado, Maria, José e Jesus.
        O fato que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no ventre dela, na tradução da Septuaginta de Gn 25, 22. O contexto, especialmente versículo 43, salienta que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Com a iluminação do Espírito Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João - é porque Maria está carregando o Senhor.
        As palavras referentes à Maria: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (v. 42) fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na libertação do seu povo: Jael (Jz 5, 24) e Judite (Jd 13, 18). Aqui Isabel louva a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.
        Finalmente, vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou”. Maria é bendita em primeiro lugar, não pela sua maternidade, mas pela fé - em contraste com Zacarias, que duvidou. Aqui Maria é principalmente modelo de fé.
        Podemos também acrescentar que neste primeiro capítulo nós encontramos as frases da primeira parte da oração da “Ave Maria”: “Ave Maria” (1, 28); “Cheia de graça” (1, 28); “O Senhor é convosco” (1, 28); “Bendita sois vós entre as mulheres” (1, 42); “Bendito o fruto do vosso ventre” (1, 42). Juntos com Isabel, saibamos honrar Maria, mãe do Senhor, modelo de fé para todos nós! Mas, a fé de Maria - como, aliás, sempre é na Bíblia - não foi uma adesão somente intelectual a Deus. Era o assumir do projeto de Deus - justiça, libertação, solidariedade e salvação integral. Por isso, Lucas põe na boca de Maria o grande Cântico do Magnificat, atualizando o Canto de Ana, (1 Sm 2, 1-10), cantando a grandeza do nosso Deus, que se põe ao lado dos humilhados e sofridos, e derruba os poderosos e prepotentes!
O texto de hoje nos lembra que Maria era uma mulher lutadora, totalmente comprometida com o projeto de Deus para um mundo fraterno. Se ela estivesse entre nós hoje, sem dúvida ela - como também Jesus - estaria nos movimentos e pastorais sociais, lutando pela vida digna de todos e celebrando com os irmãos e irmãs a fé no Deus de Justiça, Libertação e Salvação.



Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br


Um comentário :

  1. SUA EXPLICAÇAO SOBRE O ANIVERSÁRIO DE NOSSA SENHORA ESTÁ MUITO INTERESSANTE!!! SEGUINDO AQUI!!!
    http://juntoemisturado-danny.blogspot.com.br/

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Seu comentário é precioso para o nosso trabalho de evangelização.
Deus o (a) abençoe!