SEGUNDO
DOMINGO DO TEMPO COMUM (20.01.13)
Jo
2,1-11
A
primeira parte do Quarto Evangelho é comumente chamada “O Livro dos Sinais”, pois o evangelista relata uma série de sete
sinais que, passo por passo, revelam quem é Jesus, e qual é a Sua missão.
Embora algumas bíblias traduzem o termo grego que João usa por “milagre”, a tradução mais acertada é “Sinal”. O primeiro desses sinais
aconteceu no contexto das bodas de Caná, o evangelho de hoje. Como todo o
Evangelho de João, o relato está carregado de simbolismo, onde pessoas, números
e eventos funcionam simbolicamente, para nos levar além da aparência das
coisas, numa caminhada de descoberta sobre a pessoa de Jesus.
Um
dos temas centrais do quarto evangelho é o da “hora” de Jesus. A “hora” não se
refere à cronometria, mas a hora de glorificação de Jesus, por sua morte e
ressurreição. Em resposta ao pedido feito por Maria (João nunca se refere a Ela
pelo nome, mas pelo título “mulher”), usando de uma maneira até estranha este
termo para a sua mãe, João quer indicar que Jesus rejeita uma esfera meramente
humana de ação para Maria, para reservar para ela um papel muito mais rico, ou
seja, o da mãe dos seus discípulos. Maria somente vai aparecer mais uma vez
neste evangelho - ao pé da cruz, onde Ela e o Discípulo Amado assumem um
relacionamento de Filho e Mãe. Devemos lembrar que o Discípulo Amado simboliza
a comunidade dos discípulos do Senhor, ou seja, nós hoje.
Apesar
da nossa tradição piedosa mariana, é importante não reduzir a ação da Maria no
texto à de uma incomparável intercessora. Embora seja comum esta interpretação
na devoção popular, não se sustenta do ponto de vista exegético. É melhor ver
Maria aqui como discípula exemplar, pois embora a resposta de Jesus indique um
distanciamento entre a Sua expectativa e a visão d’Ele, ela continua com
confiança n’Ele e leva outros a acreditar n’Ele.
O
simbolismo da água tornada vinho é também importante. Não era qualquer água -
era a água da purificação dos judeus. Com essa história, João quer mostrar que
doravante os ritos judaicos de purificação estão superados, pois a verdadeira
purificação vem através de Jesus. Podemos entender isso como a mudança de uma
prática religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita
gente, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir de Jesus.
Assim, em Caná, Jesus começa a substituir as práticas do judaísmo do Templo,
que vai continuar ao longo do Evangelho de João.
A quantia do vinho chama a atenção -
600 litros! O vinho em abundância era símbolo dos tempos messiânicos, e, na
tradição rabínica, a chegada do Messias seria marcada por uma colheita
abundante de uvas. Assim João quer dizer que a expectativa messiânica se
realiza em Jesus. As talhas transbordantes simbolizam a graça abundante que
Jesus traz. A figura do mestre-sala é também simbólica, bem como os serventes.
Aquele, que devia saber a origem do vinho da festa, não sabia, enquanto estes,
sim. Assim, o mestre-sala representa os chefes do Templo que não sabiam a
origem de Jesus enquanto os servos representam os discípulos que acreditaram
n’Ele.
Fazendo comparação entre o vinho
antigo e o novo, João quer reconhecer que a Antiga Aliança era boa, mas a Nova
a superou. Os ritos e práticas judaicos, ligados à purificação e ao sacrifício,
não têm mais sentido, pois uma nova era de relacionamento entre a humanidade e
Deus começou em Jesus.
O ponto culminante do relato está em
v. 11: “Foi em Caná que Jesus começou os seus sinais, e os seus discípulos
acreditaram n’Ele”. A fé deles não é intelectual ou teórica; mas, o seguimento
concreto do Mestre, na formação de novos relacionamentos de amor. Passo por
passo, o autor vai revelando Jesus através de sinais para que nós, os leitores,
possamos “acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que,
acreditando, tenhamos a vida em seu nome” (Jo 20, 31).
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Pe. Tomaz Hughes, SVD
E-mail:
thughes@netpar.com.br
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