Jo 20, 19-31
“A Paz Esteja Com Vocês”
No texto
anterior ao de hoje, Maria Madalena trouxe a notícia da Ressurreição aos
discípulos incrédulos. Agora é o próprio Jesus que aparece a eles. Não há
reprovação nem queixa nas suas palavras, apesar da infidelidade demonstrada por
todos eles nos dias anteriores, mas somente a alegria e a paz que Ele já tinha
prometido no último discurso. Duas vezes Jesus proclama o seu desejo para a
comunidade dos seus discípulos: “A paz esteja com vocês”. O nosso termo “paz”
procura traduzir - embora de uma maneira inadequada - o termo hebraico
“Shalom!”, que é muito mais do que “paz”, conforme o nosso mundo a compreende.
“Shalom”, e palavras derivadas, ocorrem mais de 350 vezes no Antigo Testamento.
O “Shalom” é a paz que vem da presença de Deus, da justiça do Reino. É tudo que
Deus deseja para todos os seus filhos e filhas. O Shalom inclui tudo o que Deus
quer para o seu povo! Jesus não promete a paz do comodismo; mas, pelo contrário,
envia os seus discípulos na missão árdua em favor do Reino. Promete o Shalom,
pois Ele nunca abandonará quem procura viver na fidelidade ao projeto de Deus.
Podemos dizer que o Shalom tem dois aspectos inseparáveis - é dom e desafio
para os cristãos. É dom, porque somente Deus pode dá-la; é desafio, pois tem
que ser construído dia após dia na vida pessoal, familiar, comunitária e social
de cada pessoa.
Jesus
soprou sobre os discípulos, como Deus fez (o mesmo termo é usado) sobre Adão
quando infundiu nele o espírito de vida (Gn 2, 7); Jesus os recria com o
Espírito Santo. Normalmente imaginamos o Espírito Santo descendo sobre os
discípulos em Pentecostes; mas, aquilo (relatado por Lucas em Atos) era como a
descida oficial e pública do Espírito para dirigir a missão da Igreja no mundo,
no plano teológico do autor de Atos. Para João, o dom do Espírito, que por sua
natureza é invisível, flui da glorificação de Jesus, da sua volta ao Pai. O dom
do Espírito neste texto tem a ver com o perdão dos pecados.
Mais uma
vez, no primeiro dia da semana, Jesus aparece aos discípulos (notemos a ênfase
sobre o Domingo - duas vezes). Esta vez, Tomé está presente. Ele representa os
discípulos da comunidade joanina do fim do século primeiro, que estavam
vacilando na sua fé na Ressuscitado, diante dos sofrimentos e tribulações da
vida. Assim nos representa, quando nós vacilamos e duvidamos. Jesus nos
fortalece com as palavras: “Felizes os que acreditaram sem ter visto!”. Essa,
muitas vezes, será a realidade da nossa fé: acreditar contra todas as
aparências que o bem é mais forte do que o mal e a vida do mais forte que a
morte! Somente uma fé profunda e uma experiência da presença do Ressuscitado
vão nos dar essa firmeza.
Tomé
confessa Jesus nas palavras que o Salmista usa para Javé (Sl 35, 23). No
primeiro capítulo do Evangelho de João, os discípulos deram a Jesus uma série
de títulos que indicaram um conhecimento crescente de quem Ele era – “Cordeiro
de Deus”, “Rabi”, “Messias” “Rei de Israel”; aqui, Tomé lhe dá o título final e
definitivo: Jesus é Senhor e Deus!
Nessa
proclamação triunfante da divindade de Jesus, o Evangelho terminava (o Capítulo
21 é um epílogo, adicionado mais tarde). No início, João nos informou que “o
Verbo era Deus”. Agora, ele repete essa afirmação e abençoa todos os que a
aceitam baseados na fé! A meta do evangelho foi alcançada: mostrar a divindade
de Jesus, para que acreditando, todos pudessem ter a vida n’Ele.
Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br
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