quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Mais notícias sobre o Sínodo


Notícias do Sínodo dos Bispos 06 - Pe. Lima
HOJE FALOU O SUPERIOR GERAL DOS SALESIANOS
Hoje, solenidade de Na. Sa. Aparecida, o dia prometia ser também diferente, e o foi. Para os espanhóis é dia de Na. Sa. do Pilar e para todos os de fala castelhana, é dia da hispanidad em vista da descoberta da América, por parte de Cristóvão Colombo, nesse dia. A três datas foram lembradas em público. No Colégio Pio Brasileiro houve a tradicional Missa e Festa de Na. Sa. Aparecida, onde, em geral, comparecem todos brasileiros ligados à Igreja que estudam ou residem em Roma, como também outros. Mas nós, participantes do Sínodo, não pudemos ir por causa dos trabalhos sinodais.
Das 09h30 às 12h00 houve mais uma longa sessão de discursos, ao todo 25. Falaram personagens bastante conhecidas como o prelado da Opus Dei (J. Echeverria), Dom G. Ravasi, do Pontifício Conselho para a Cultura). Foi um dia também salesiano, pois falaram dois bispos nossos irmãos de Congregação e o Reitor Mor.
Uma pensamento que já foi bastante acentuado e que retornou hoje foi: a Nova Evangelização deve começar pela conversão dos Bispos, dos Sacerdotes, dos Religiosos... e nessa linha se coloca a revalorização do Sacramento da Penitência e a renovação da vida espiritual.
Bispos do Leste Europeu (ex países comunistas), mas também de outras partes, insistiram que o guardião da fé em muitos lugares é a família, principalmente em época de perseguição ou de "desertificação espiritual", como afirmou ontem Bento XV. Alguns apresentaram experiências em que toda paróquia gira em torno da Pastoral Familiar e a evangelização, ou início de evangelização, se faz pela Pastoral da Visitação, às vezes de porta em porta. Bispos da África, como também da América Latina, sublinharam e defenderam muito as pequenas comunidades, com meio de sustentar a fé do nosso povo.
Sobre elementos que caracterizam o sacerdócio ministerial estão: seu lugar específico na Igreja, sua origem sobrenatural e sacramental e sua ligação essencial com a Eucaristia; o celibato, por sua vez, está ligado à identidade cristológica e possui um grande valor de testemunho.
Outro tema que nos dias passados, como hoje também aflorou com ênfase, foi o diálogo intercultural e interreligioso. Isso interessa muito às jovens igrejas da Ásia e África, que vivem num ambiente hostil, por vezes de martírio, e encontram no diálogo interreligioso, como minoria, um meio de ter espaço na sociedade e poder afirmar a própria fé. Já fiz referência às grandes dificuldades de minorias cristãs diante do fundamentalismo e fanatismo religioso islâmico. Alguns chegaram a dizer que nem aqui, num ambiente extremamente seguro e fraterno, longe daqueles territórios de perseguição, eles têm coragem de falar a verdade como ela é; temem a represália.
Mas também o diálogo ecumênico não é fácil. Em parte nós sentimos isso com igrejas cristãs que professam a mesma fé aqui no ocidente. Mas, no oriente o confronte com a igreja ortodoxa é também, em muitos casos, extremamente difícil. Um bispo da Romênia me dizia, por exemplo, que já há ortodoxos que negam poder rezar juntos o mesmo Pai Nosso...
O Bispo Salesiano, Dom Enrique Covolo, que esteve no Centro Unisal Pio XI (São Paulo) no mês de julho, desenvolveu o tema da evangelização nas Escolas e Universidades. Além da secularização do ensino básico, médio e superior, a tendência dos estados modernos é de domesticar também as universidades católicas, submetendo-as ao rigor e controle das leis acadêmicas, privando tais institutos da liberdade que sempre tiveram; e denunciou o perigo que temos de, em vista de obter um título civil, renunciarmos a currículos específicos de nossa formação católica ou mesmo à influência do evangelho na cultura acadêmica.
O problema da linguagem na evangelização voltou com a intervenção de dom Gianfranco Ravasi. A nova evangelização precisa adotar os novos cânones da comunicação telemática e digital, e aprender dela a essencialidade, a brevidade e o recurso à imagem. Elogiou a iniciativa do "Pátio dos Gentios" promovido por Bento XVI. Fez referência ao mundo da arte, da cultura juvenil, das ciências e da técnica. "Não devemos ter medo de penetrar o mundo da ciência e da técnica, com o olhar sempre em Jesus que contemplava o mundo vegetal e animal e recorria até às previsões meteorológicas (cf Mt 16, 2-3) para anunciar o Reino de Deus".
O Pe. Pascual Chávez, Superior Geral dos Salesianos, cuja fala já havia sido anunciada ontem, intitulou-a assim: "Vinde e vede: a urgência de encaminhar e favorecer uma cultura vocacional na Igreja". Chamou a atenção para a centralidade das vocações no projeto da Nova Evangelização, pois são dois elementos inseparáveis. Mais do que "vocação", devemos cultivar uma cultura vocacional, isto é, "um modo de afrontar e conceber a vida como dom recebido gratuitamente de Deus para um projeto ou uma missão conforme o seu desígnio". Nesse contexto é que se deve propor aos jovens os diversos caminhos vocacionais: matrimônio, vida religiosa ou consagrada, serviço sacerdotal, empenho social e eclesial, e acompanhá-los no trabalho de discernimento e de escolha.
Pe. Pascual sugeriu que o Sínodo ajude todos os pastores a serem verdadeiros guias espirituais para os jovens. Propôs, ao final, quatro linhas de ação: 1. Favorecer um ambiente ou cultura em que a vocação do jovem possa germinar e desenvolver-se; 2. Acompanhamento espiritual; 3. Intenso amor pela Igreja e 4. Educar para a oração pessoal.
Nessa grande "chuva de idéias" durante essa primeira, muitos outros temas foram abordados e aprofundados. Há uma sensação de que o Sínodo está um pouco disperso e genérico em sua impostação. Mas o pessoal que tem experiência de outros Sínodos (há gente aqui que já participou de 6....), diz que isso é normal na primeira semana. As coisas começarão a afunilarem a partir da 2a. metade, ou seja, na metade da próxima semana!
A grande novidade do dia foi o almoço oferecido para todos (umas 400 pessoas!) pelo Papa Bento XVI. Na primeira parte da grande Sala Paulo VI (aquela das audiências gerais das 4as. feiras, que comporta milhares de fiéis) as cadeiras foram tiradas e montadas umas 50 mesas, além da grande mesa central para o Papa e os convidados mais especiais.
Nós brasileiros (os cinco bispos e mais três participantes) fizemos uma mesa onde, além da refeição caprichada que nos foi servida, partilhamos muito nossos pontos de vista sobre o Sínodo, assim como a vida da Igreja no Brasil. Na mesa do Papa, além de cardeais, estavam dois ilustres visitantes que já haviam falado para os padre sinodais: o patriarca ortodoxo de Constantinopla, sua Beatitude Bartolomeu I e o Arcebispo Anglicano de Cantuária, sua Graça R. D. Williams. Como curiosidade, foi um banquete de 6 talheres e 4 taças. Naturalmente o tom das conversas estavam bem mais alto no final, do que no início...
O dia foi concluído com a palestra de 45 minutos de um prêmio Nobel de Medicina em 1978 (Microbiologia), Prof. Werner Arber, da University of Basel (Suíça) e Presidente da Pontifícia Academia de Ciências da Santa Sé. É o primeiro não católico a ocupar esse cargo (ele é protestante). Assim intitulou sua palestra em inglês: "Contemplation on the Relations between Science na Faith". Em linguagem mais técnica do que teológica, como é próprio do tema, ele apresentou as relações entre ciência e fé, acentuando a compatibilidade entre o conhecimento científico e o conteúdo essencial da fé. Seguiu-se um pequeno diálogo entre o ilustre palestrante e a Assembleia.

Roma, 12 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.


Notícias do Sínodo dos Bispos 07 - Pe. Lima
MAIS 56 DISCURSOS!  UMA ESCUTA ATENTA
Nada a relatar hoje, 13 de Outubro, a não ser as quatro sessões (2 pela manhã e 2 pela tarde) com 56 discursos, ao todo, dos padres sinodais. No entanto tais discursos deverão continuar ainda na semana que vem, durante dois dias. 
Além dos avisos corriqueiros, foi anunciado o resultado da eleição de 12 cardeais, arcebispos para a redação da Mensagem do Sínodo (um documento dirigido a toda a Igreja no final dessa Assembleia). O Arcebispo de Brasília, Dom Sérgio Rocha, está entre os eleitos.
Como se sabe, a língua oficial do Sínodo (como do Vaticano, em geral) é o latim. Então, os discursos mais importantes ou quando falam os Moderadores (são 3 que se revezam), a língua usada é sempre o latim. O Secretário Geral, Dom Nikola Eterovic e Card. Dom Francisco Robles Ortega (México) falam muito bem e sem tanto sotaque. Mas é uma graça ouvir os outros dois moderadores (Card. Dom John Tong Hon, de Hong Kong e Card. Laurent Monsengwo Pasinya) falarem a língua de Cícero com seus sotaques chinês e africano. Houve um cardeal americano que elogiou o fato do uso oficial do latim, mas pediu que não seja um latim tão clássico, mas um pouco mais "eclesiástico" (e consequentemente muito mais fácil...).
Naturalmente os nomes próprios (aliás, complicadíssimos para nós ocidentais) são mantidos na língua original. Os nomes dos indianos, como dos países árabes e da Europa oriental, são quase impronunciáveis! As frases em latim que mais se ouvem são: "Nunc loquabitur Emminentissimus Cardinalis (ou Excelentissimus Episcopus) N. N., e se preparit Episcopus N.N."
Dos 56 discursos hoje pronunciados, 40 (com 5 minutos cada um) foram lidos e o texto distribuído apenas para nós peritos que deveremos redigir uma síntese final, e outros 16 foram espontâneos, com 4 minutos cada. O jornal Osservatore Romano está publicando uma síntese dos discursos de 5 minutos. Essa dinâmica vem sendo observada desde o primeiro dia.
Como já acenei, é muito cansativo ficar ouvindo discursos em cinco línguas diferentes, mas é aí que se manifesta a riqueza e diversidade de pensamento e de experiências de todas as partes do mundo. Sendo impossível relatar aqui uma síntese de todos os discursos, apresento algumas ideias que foram mais recorrentes ao longo do dia, tanto nos discursos lidos como nos espontâneos:
1) Embora o mais importante na Evangelização seja o ato de fé, a resposta pessoal à Palavra de Deus (fides qua ou confessio fidei), por outro lado não se pode esquecer a dimensão racional e doutrinal (fides quae ou professio fidei), se quisermos dialogar com a cultura de hoje.
2) O tema da família voltou insistentemente em vários pronunciamentos, vendo nela não só o objeto, mas sobretudo o sujeito da evangelização. Os países que vivem ou viveram clima de perseguição testemunham que a fé é mantida principalmente na família. Espera-se que a Igreja publique algum manual ou vade mecum das famílias cristãs em situações canonicamente irregulares.
3) Para nós, na América Latina, as pequenas comunidades ou comunidades eclesiais de base, são prática pastoral desde os anos 60, tendo atingido o auge nos anos 70 a 90 e ainda permanecem vivas. Entretanto para países da Ásia e da África, está sendo uma descoberta! E como falam entusiasticamente desse modo de ser igreja, para nós já tão antigo!
4) Dom Odilo, arcebispo de São Paulo, fez um pronunciamento afirmando que ao longo da história da Igreja, já houve muitos momentos de nova evangelização, com a atuação de grandes santos e pastores, entre os quais citou Dom Bosco. A Igreja, mais do que estrategistas pastorais, precisa hoje de novos e santos evangelizadores que anunciem o Evangelho com a própria vida e testemunho. Nesse sentido, Dom Filipo Santoro, que trabalhou 27 anos no Brasil e hoje é bispo na Itália, relatou sua experiência pastoral na atual diocese, com problemas muito semelhantes aos do Brasil.
5) Fiquei impressionado com o número de pronunciamentos a respeito da missão do bispo com relação à evangelização. Um deles chegou a dizer, com certo exagero, que, se uma diocese não é missionária, isso é culpa do bispo que não cumpre suas essenciais obrigações!
6) Muitos falaram também da necessidade de evangelizar através da religiosidade popular, dando conteúdo evangélico e substancial àquelas práticas que o povo aprecia e através das quais exprime sua adesão a Jesus Cristo e a seu Evangelho. Muitas vezes ela precisa ser re-orientada, educada para que cresça na expressão da autêntica fé.
7) A Doutrina Social da Igreja também foi lembrada por alguns como importante meio de fazer chegar o fermento do Evangelho à grande sociedade, às estruturas sociais e à solução de problemas novos e antigos que sempre surgem nos grupos humanos. É necessário relembrá-la, pois faz parte de qualquer tipo de evangelização. Sugeriu-se que toda a Igreja ratifique e viva mais intensamente a opção preferencial pelos pobres.
8) O tema da inculturação foi abordado não do ponto de vista teórico e intelectual, mas no relato de muitas experiências, particularmente nos países de mais recentes cristianismo.
9) Em não poucos lugares se vive o problema das migrações, tanto internas como para outros países. É uma situação para a qual o Evangelho traz muitas luzes e soluções.
10) Foi muito aplaudida a intervenção de Dom Berislav Grigc que falou da presença da Igreja nos países nórdicos, suas dificuldades (padres que viajam 2000 km para atender uma comunidade!), mas ao mesmo tempo dos bons frutos e crescimento da Igreja naquelas regiões, particularmente através do catecumenato de adultos.
11) Dom Leonardo Ulrich Steiner, Secretário da CNBB, falou da importância dos leigos na nova evangelização. Referiu-se também aos jovens, como um novo areópago da Igreja hoje, das boas experiências com jovens missionários de jovens principalmente através da música e da mídia em geral.
12) Mais de três discursos voltaram a atenção para a formação presbiteral. Para uma nova evangelização se requer uma formação que qualifique os presbíteros a viverem como missionários e, ao mesmo tempo, animadores de novos missionários.
13) A partir de uma sugestão do Instrumento de Trabalho (no. 108), alguns pediram que a Igreja reconheça e institua o ministério do catequista, para que esse trabalho tão dedicado de muitos cristãs e cristãos, seja mais reconhecido e valorizado na comunidade eclesial. Isso não significa "domesticá-los" e muito menos "clericalizá-los".
14) Voltou hoje, em vários pronunciamentos, sobretudo de bispos do Oriente Médio, da África e do Leste Europeu, o problema da dificuldade de diálogo como o Islã e a denúncia de discriminação dos cristãos, e muitas vezes de perseguição e martírio.
15) Finalmente dois problemas que polarizaram as discussões livres foram: 
a) a sequência dos sacramentos de iniciação: manter a sequência atual, de caráter pastoral (batismo, eucaristia, crisma) ou retornar à sequência da antiga tradição, de caráter mais teológico (batismo, crisma e eucaristia)? 
b) a questão da islamização do ocidente cristão: causou grande impacto na assembleia um pequeno filme de cinco ou sete minutos (cujo conteúdo eu já havia visto na internet, há tempo) que mostra um problema quase que irreversível: estatisticamente, em base a dados demográficos e migratórios, dentro de 50 anos a Europa cristã terá desaparecido transformando-se um continente mulçumano. Se as famílias cristãs não gerarem mais filhos e se não houver um trabalho de intensa evangelização, esse será o destino de nossa História... 
Alguns viram nisso uma "guerra de religiões", outros duvidaram dos dados e perguntaram pelas fontes... mas parece que a frieza dos números e estatísticas apontam nessa direção. Um motivo a mais para intensificar uma nova evangelização.

Roma, 13 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.


Notícias do Sínodo dos Bispos 08 - Pe. Lima
DISCURSOS!  
Iniciamos a semana com a 11ª Congregatio Generalis, realizada de manhã, recitando a hora Tércia, sempre em latim, acompanhado com um coro que alternava com a Assembleia. O Papa esteve presente a manhã toda. O Secretário Geral fez referência a Santa Tereza de Jesus, cuja memória ocorre hoje, e cumprimentou a Igreja na Espanha, por ter dado tão grandes santos (essa é uma das 4 doutoras da Igreja!).
Desde o início eu não entendia por que há tantos bispos do oriente próximo, do norte da África e do leste europeu. Além de se destacarem por suas vestes solenes e multicoloridas, o que salta aos olhos, também estão em grande número. Hoje vim saber a razão: Bento XVI em sua recente viagem ao Líbano e também por outros gestos e atos, insistiu que para nesse Sínodo fosse aumentada a participação da Igreja Católica Oriental, como também os convidados Ortodoxos.
O Superior dos salesianos, Pe. Pascoal Chávez retornou à Assembleia, da qual se afastara sábado, pois falecera a irmã de seu secretário particular, Pe. Bartolomé, que é também seu colega de turma. Soubemos igualmente do falecimento do grande professor de catequética da UPS, Pe. Roberto Gianatelli, cujos funerais se realizaram hoje de manhã.
Também hoje, nada de especial a relatar, a não ser o conteúdo dos 27 discursos na parte da manhã e mais 16 na parte da tarde (sempre de cinco minutos) e 20, de três minutos. Ao todo, 63 pronunciamentos. A seguir, uma síntese dos principais:
1) O primeiro orador falou das raízes da fé, ou melhor donde nasce a credibilidade de nossa fé, a fim de que seja uma confissão da fé (e não apenas uma profissão, isso é, o conteúdo em que cremos). Ele tinha muita autoridade para falar, pois representava a Igreja da Europa centro-oriental (Croácia, arcebispo de Zágreb), onde o comunismo dos anos da cortina de ferro fez muitos mártires. Hoje não há mais o martírio de sangue, mas o martírio incruento do massacre produzido pelas novas expressões ideológicas materialistas (secularização da vida), levando à intolerância da religião, principalmente do cristianismo. O martírio consiste em não ceder à lógica do mundo e mostrar que pertencemos a um "Outro". Sobretudo leigas e leigos resistem às novas ideologias e são os primeiros anunciadores da Nova Evangelização (NE).
2) Um lugar da NE é a mobilidade humana (migração), dentro da qual se coloca também as peregrinações, tão queridas pelo povo e que reavivam a fé dos peregrinos.
3) A NE não se resolve com planos feitos por especialistas... mas é obra do Espírito Santo.
4) O Bispo de Phom Penh (Cambodja) afirma que os fundamentos da NE são: 1) o verdadeiro encontro com Jesus Cristo que abre o coração ao amor e ao perdão e, 2) os leigos que devem atuar no mundo (Apostolicam actuositatem!). Como a Igreja será verdadeiro Sacramento de Cristo no mundo para ser uma NE em ato? Responde: uma igreja que toque os corações, simples, hospitaleira, orante e alegre.
5) Um outro denuncia os vícios de antigas cristandades e propõe uma conversão pastoral com 4 pistas: santificação pessoal, uma releitura aprofundada do magistério da Igreja, uma nova pastoral, com novo estilo: querigma, iniciação cristã catecumenal, dimensão racional e apologética da fé, eclesiologia que acredite na corresponsabilidade dos leigos, espaços de acolhida e de diálogo, uma "ecologia humana".
6) Experiência de NE vivida na Arquidiocese de Barcelona: redescoberta do Evangelho centrado no anúncio de Jesus (Evangelho de Marcos distribuído em profusão, átrio dos gentios), muita importância aos leigos, valorização da missa dominical, favorecimento de momentos de espiritualidade e de experiências pessoais, uma leitura crente da realidade atual.
7) Grande obstáculo à NE é a divisão dos cristãos, particularmente entre a Igreja Católica e Igreja Ortodoxa russa e rumena. O ecumenismo (do oriente e do ocidente) é indispensável para dar testemunho de Jesus Cristo.
8) É preciso insistir no modelo familiar cristão, apesar de toda ideologia em contrário e dar maior atenção às famílias canonicamente irregulares. Propõe-se uma opção prioritária à família.
9) Dois cenários preocupantes: a) há hoje um caos cultural que deforma a compreensão da Verdade e da Bondade, levando ao autoisolamento e subjetivismo. Como consequência do consumismo aparece o relativismo moral e religioso que se transforma nas diversas formas de pseudorreligiosidade e neopaganismo. Esses e outros elementos são o cenário que a NE deve enfrentar. b) Os jovens se encontram numa situação insustentável: são envolvidos muito antecipadamente, com relação à própria idade, num mundo rico de informações, saberes, sensações, oportunidades de encontro, mas ao mesmo tempo são abandonados pelos adultos que os deveriam formar. Nunca na história houve tanta liberdade individual e de massa como para os jovens hoje, mas é uma promessa sem futuro, pois os adultos renunciaram a seu papel educativo... numa espécie de Édipo ao contrário, são os pais que matam seus filhos...
10) Se por um lado há muitas queixas, por parte dos Orientais e Africanos, contra a discriminação perseguição dos mulçumanos, por outro foram apresentadas boas experiências de conversões do islamismo. Perguntando a jovens mulçumanos qual a razão que os leva a se aproximarem do cristianismo, respondem: a alegria e a liberdade!
11) O Card. Rouco Varela (Madrid) afirmou: há secularismo porque houve secularização que tem suas raízes na crise pós-guerra, na "morte de Deus", no super-homem, nos totalitarismos (comunismo, nacionalismo, fascismo) que geraram a "Igreja do Silêncio". Nesse quadro, nasceu o Vaticano II, mas depois a crise se aprofundou com a revolução de "maio de 68" com uma radicalidade teórica e prática que afeta a própria pessoa humana... "um bebê de chipanzé tem mais direitos que uma criança com deficiência...". E a Igreja, o que fez? Certamente muita coisa, mas hoje é necessário mostrar em praça pública quem somos e o que somos. É hora de profundo exame de consciência, conversão pessoal e pastoral. A Igreja precisa "desmundanizar-se" para uma renovada e fecunda evangelização de nosso tempo!
12) O bispo japonês de Fukuoka agradeceu sensibilizado a grande ajuda que a Igreja do Ocidente deu àquele país por ocasião do terrível tutsinami: foi a prática da Gaudium et Spes e isso foi um importante sinal do Evangelho de Jesus para o povo japonês. Ao mesmo tempo manifestou grande esperança nos resultados do Sínodo.
13) Se a Igreja falhou no passado é porque transmitiu apenas conteúdo, doutrina fria, moralismos... hoje precisa centrar-se no Ato de Fé, no encontro e resposta pessoal a Jesus Cristo. é preciso evangelizar primeiramente os evangelizadores: bispos, presbíteros, vida consagrada, e uma séria conversão pastoral.
14) O superior geral dos dominicanos, Pe. Bruno Cadoré apresentou três desafios: 1) diálogo com as ciências: Deus confiou aos homens o trabalho de buscar juntos um "mundo comum a todos", um verdadeiro caminho para a "humanização do homem". 2) Desafio da liberdade: é preciso fazer como Jesus que caminhava com seus discípulos pela Palestina manifestando a fraternidade e amizade de Deus para com os homens. Precisamos aprender da paciência de Deus que confia na frágil liberdade humana: a evangelização encontra sua força na contemplação desse mistério da misericórdia. 3) O desafio da fraternidade: a graça do Espírito de Deus pode transfigurar a realidade humana da fraternidade em sacramento da amizade de Deus com os homens.
15. Dom Shlemon Warduni, bispo da Babilônia dos Caldeus afirmou: a NE deve fundamentar-se na graça do Espírito Santo que ilumina o homem e o faz acolher a vocação cristã. É preciso evangelizar-se a si mesmo para depois evangelizar os outros. Apresentou uma situação extremamente difícil para a Igreja no Iraque: número de cristãos em constante diminuição por causa da emigração contínua dos fiéis, dos catequistas e do clero, e também pelo mau exemplo da desunião entre os cristãos.
16) Por fim, o nosso irmão salesiano, Card. Ângelo Amato, fez um pronunciamento intitulado: Os santos evangelizam. Eles pregam e anunciam o Evangelho não tanto com a palavra, mas com o exemplo de vida mergulhada em Deus e fazendo o bem aos irmãos.

Roma, 15 de Outubro de 2012 - Santa Tereza de Jesus.
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.


Notícias do Sínodo dos Bispos 09 - Pe. Lima
PAPA NOMEIA DELEGAÇÃO PARA MEDIAR O CONFLITO NA SÍRIA
Ao iniciar os trabalhos de hoje, Dom Tarcísio Bertone, sdb, Secretário de Estado, comunicou que o Papa Bento XVI nomeou uma delegação de padres sinodais para ir em nome desse Sínodo da Igreja Católica até à Síria, país mergulhado numa guerra civil sem fim, e levar solidariedade, auxílio econômico e propostas para a cessação das hostilidades nas quais já morreu muita gente, principalmente civis. A proposta foi acolhida pela Assembleia com uma grande salva de palmas. Todos admiraram a coragem e determinação do Papa ao tomar tal decisão!
A respeito do polêmico filme projetado ontem, esclareceu-se que tinha a finalidade de chamar a atenção para a diminuição das famílias no ocidente cristão, sem nenhuma conotação religiosa e suscitar um debate a respeito do sacramento do matrimônio que a nova evangelização deve levar muito em conta.
Também o Card. D. Wifrid Fox Napier, Arcebispo de Durban (África do Sul) perguntou em público o que era essa tal de Aparecida que os latino-americanos citam tanto. Porque não citam oSínodo das Américas (Ecclesia in America) que foi o documento papal sobre esse continente? Nós da América Latina achamos estranho, mas, afinal de contas, não podemos saber de tudo! D. Carlos Aguiar Retes (México), Presidente do CELAM esclareceu o que são e como surgiram as Conferências do Episcopado Latino-Americano, como o Sínodo das Américas foi de todas as Américas (incluindo, pois, EUA e Canadá) e que o CELAM é um outro organismo, congregando apenas países da América Latina e Caribe, que possuem uma certa unidade cultural-religiosa (diferente dos EUA e Canadá) e, mais ainda, como Aparecida foi realizada 10 anos após o Sínodo das Américas e que, portanto, tratou de assuntos muito mais atuais. No entanto garantiu que na relação que fez logo no início da Conferência de Aparecida sobre a situação da fé no continente, ele que redigiu tal relatório, usou bastante o documento de João Paulo II Ecclesia in America.
Por falar em Aparecida tenho a sensação de que esse grande acontecimento da nossa Igreja Latino-Americana dos inícios do milênio, de certa forma já abordou e tomou decisões pastorais, em escala continental, a respeito dos mesmos temas que o Sínodo de Roma agora está abordando em escala mundial e, portanto, mais complexos. Nesse sentido, nossa Igreja Continental já deu passos significativos em direção dessa Nova Evangelização desde 2007; o Sínodo virá certamente reforçar algumas opções já feitas por nós e indicará novas perspectivas de ação, também pela autoridade maior que tem, com relação à Aparecida.
Hoje, como ontem, foi um dia de discursos e debates, talvez os últimos. Falaram aqueles padres sinodais inscritos e que ainda não tiveram oportunidade de falar, e principalmente um grupo dos chamados "delegados fraternos", ou seja, representantes de outras igrejas cristãs que, fraternalmente, foram convidados a partilhar conosco as mesmas preocupações diante do desafio da Evangelização no mundo de hoje.
Dom Launay Saturné, de Haiti, fez um sentido agradecimento a toda Igreja pela ajuda recebida por ocasião do grande terremoto que quase destruiu todo o país. Hoje, já em parte reconstruído, a Igreja se empenha em reedificar também espiritualmente toda a nação, tão sofrida e provada.
D. Claudio M. Celli, presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, disse que uma das novidades do anúncio evangélico hoje são as novas mídias. A arena digital é uma realidade na vida das pessoas, sobretudo no ocidente e entre os jovens. Não podemos considerá-la um espaço virtual menos importante que o espaço real. De certa maneira a Igreja já possui uma presença no espaço digital, e o próximo desafio é a mudança do estilo comunicativo para tornar essa presença eficaz. Devemos aprender a apresentar o evangelho numa linguagem midiática, e não usar a mesma linguagem que usamos na cultura gutemberiana. Se de um lado a mudança técnica é relativamente fácil e visível, muito mais desafiador é mergulhar na cultura midiática e através dela propor a mensagem de Jesus.
Dentre os auditores (ouvintes) falou o sr. José Prado Flores (México), fundador e presidente mundial das "Escolas de Evangelização San Andres". Partindo do texto evangélico que fala da perda de Jesus no Templo, ele afirmou que muitas vezes, na nossa pastoral, "perdemos Jesus", ou seja: ficamos preocupados com tantas coisas, como doutrina, moral, teologia, direito, devoções...e esquecemos o centro e o início de tudo, que é o encontro pessoal com Jesus Cristo, ponto de partida e fundamento de tudo o resto. Daí a importância do primeiro anúncio, do querigma. Essas "escolas de evangelização" são um movimento leigo dedicado justamente ao primeiro anúncio e ao querigma. Suas escolas, presentes em muitos países, também no Brasil, preparam evangelizadores para atuarem em todos os campos da sociedade.
Na parte da tarde, o Papa fez questão de estar presente na primeira parte, pois foi quando falaram "os delegados fraternos". Ele quis prestigiar, apoiar e ouvir esses nossos irmãos de outras igrejas. Entre os sete que falaram estava o Metropolita Hilarion Alfeyev, do patriarcado de Moscou, a bispa Sarah F. Davis, do Conselho Mundial Metodista, o Rev. Dr. Timothy George, da Federação Mundial Batista, o bispo Steven Croft, anglicano, o bispo Span Siluan, da Igreja Ortodoxa Romena e o frater Alois, Prior da Comunidade Ecumênica de Taizé. Todos eles agradeceram muito a honra de terem sido convidados para um evento tão importante da Igreja Católica e aprofundaram o tema do ecumenismo.
No momento da palavra livre Dom Odilo falou da necessidade de aprofundar a antropologia cristã, diante de tantas concepções errôneas a respeito da natureza humana, e mostrar claramente, como ensina o Vaticano II, que Jesus revela o homem ao homem. Solicitou também que na Mensagem final seja dita uma palavra de encorajamento de nosso povo na fé, que às vezes sente-se fraco e desanimado diante de tantos ataques que a Igreja vem recebendo ultimamente, ou dos escândalos internos da mesma Igreja.
Um bispo da África do Sul questionou por que as mulheres são as que mais frequentam a Igreja Católica e os homens vivem afastados... em outras religiões, disse, são os homens que mais participam e atuam nas próprias Igrejas...
Ao concluir o dia o Secretário Geral, Dom Nikola Eterovic, agradeceu o trabalho dos peritos ou consultores na elaboração da Relação sobre as discussões havidas até hoje e que será apresentada amanhã. Ao mesmo tempo comunicou que já estão à disposição os textos para a celebração eucarística da missa intitulada: "pela nova evangelização", com tradução inclusive em português.

Roma, 16 de Outubro de 2012
Pe. Luiz Alves de Lima, sdb.


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