sexta-feira, 1 de novembro de 2013

A Beleza da Mesa


Recentemente, em visita a Morro de Chapéu, Bahia, vivi, não somente a alegria de desfrutar de seu agradável clima e das suas belas paisagens, mas também a alegria da experiência de estar à mesa. Não sei porque, mas naquele dia a mesa, enquanto local de encontro, falou tanto ao meu coração. De um momento ao outro, fui tomado por uma alegria de estar ali, saboreando algumas guloseimas e partilhando a vida da família que me acolhia.

As refeições têm um caráter social. Não são simplesmente para satisfazer as nossas necessidades nutritivas, mas se constituem em momentos de encontro, nos quais partilhamos, não somente os alimentos, como também a própria vida. A mesa torna-se, assim, um espaço sagrado, porque lugar onde nos damos e geramos comunhão.

Desse modo, não é simplesmente o corpo que é fortalecido, mas também a alma. São nutridos os afetos, fortalecidos os laços familiares, intensificadas as amizades, pelo simples fato das pessoas buscarem estar juntas, de frente umas para as outras, sendo assim companheiras reciprocamente. Aliás, a própria palavra companheira, formada por dois vocábulos, (cum panis) está ligada à mesa pelo fato de literalmente significar aquele com quem dividimos o pão.

Na verdade, a mesa deveria tornar-nos companheiros, fazendo-nos crescer na intimidade, à medida que participamos do mesmo pão. Contudo, como se não bastasse o ritmo frenético e estressante dos nossos dias, que não nos fazem estar à mesa por muito tempo, nem nos mesmos horários, encontramo-nos perante um invasor ou alguns invasores que têm obscurecido o belo sentido de estar à mesa. Trata-se da televisão e dos telefones celulares e outros aparelhos que possibilitam a conexão com outras pessoas alhures.

São verdadeiras “refeições de corpo presente”, pois o espírito está sintonizado no que é notícia, no programa de humor ou no filme e na telenovela que chama a atenção pela sua trama. Através dos aparelhos de comunicação, permanece-se, bem sintonizado com quem não se vê, que está do outro lado, do que com quem se está defronte. É o paradoxo da comunicação moderna.

É preciso recuperar a beleza da mesa, que deve tornar-se “sacramento” do amor que é uma força que conduz ao encontro, à relação, à comunhão de vidas. É preciso que na própria configuração da nossa casa não deixemos que o televisor tome assento na sala de refeição. Faz-se mister também, educar as novas gerações, fazendo-lhes perceber que a comunicação on line não pode substituir a comunicação “tete a Tete”, muito mais rica e enriquecedora.

A mesa nos lembra que fomos feitos não para viver na solidão, mas na comunhão. Interessante que o próprio Cristo quis estar conosco, convidando-nos a sentar-se com Ele à mesa, todos os domingos na Eucaristia. Sejamos seus comensais, participando da mesa sagrada, cujo alimento é o próprio Senhor. Façamos também da mesa de nossa casa eucaristia, convidando o Cristo, e não o televisor, a estar conosco e com Ele e nele interagirmos com os que se assentarem conosco, procurando aquecer-lhe o coração com a partilha do que se tem, e, sobretudo, do que se é.

Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
pepedrojr@hotmail.com
Sacerdote da Arquidiocese de Feira de Santana - BA. É doutor em Teologia Moral pela Acadêmia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, Roma. Atualmente exerce as funções de Reitor do Seminário Maior Santana Mestra, Vigário Episcopal e professor da Faculdade Arquidiocesana de Feira de Santana. Autor dos livros "Por um Amor Esponsal" e "O Seguimento de Jesus". Breve lançara o livro "Subindo a Montanha". Em seus estudos destaca o nexo entre moral e espiritualidade.


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