A
teologia
Escrevendo entre
judeus e para judeus, MATEUS procura mostrar como na pessoa e na obra de Jesus
se cumpriram as Escrituras, que falavam profeticamente da vinda do Messias. A
partir do exemplo do Senhor, reflete a praxe eclesial de explicar o mistério
messiânico mediante o recurso aos textos da Escritura e de interpretar a
Escritura à luz de Cristo. Esta característica marcante contribui para
compreender o significado do cumprimento da Lei e dos Profetas: Cristo realiza
as Escrituras, não só cumprindo o que elas anunciam, mas aperfeiçoando o que
elas significam (5,17-20). Assim, os textos da Escritura neste Evangelho
confirmam a fidelidade aos desígnios divinos e, simultaneamente, a novidade da
Aliança em Cristo.
Nele ressaltam
cinco blocos de palavras ou “discursos” de Jesus: 5,1-7,28; 8,1-10,42;
11,1-13,52; 13,53-18,35; 19,1-25,46. Ocupam um importante lugar na trama do
livro, tendo a encerrá-los as mesmas palavras (7,28), e apresentam
sucessivamente: “a justiça do Reino” (5-7), os arautos do Reino (10), os
mistérios do Reino (13), os filhos do Reino (18) e a necessária vigilância na
expectativa da manifestação última do Reino (24-25).
Desde o séc. II,
o Evangelho de MATEUS foi considerado como o “Evangelho da Igreja”, em virtude
das tradições que lhe dizem respeito e da riqueza e ordenação do seu conteúdo,
que o tornavam privilegiado na catequese e na liturgia. O Reino proclamado por
Jesus como juízo iminente é, antes de mais, presença misteriosa de salvação já
atuante no mundo. Na sua condição de peregrina, a Igreja é “o verdadeiro
Israel” onde o discípulo é convidado à conversão e à missão, lugar de tensão
ética e penitente, mas também realidade sacramental e presença de salvação. Não
identificando a Igreja com o Reino do Céu, MATEUS continua hoje a recordar-lhe
o seu verdadeiro rosto: uma instituição necessária e uma comunidade provisória,
na perspectiva do Reino de Deus.
Como os outros
Evangelhos, o de MATEUS refere à vida e os ensinamentos de Jesus, mas de um
modo próprio, explicitando a cristologia primitiva: em Jesus de Nazaré
cumprem-se as profecias; Ele é o Salvador esperado, o Emanuel, o “Deus conosco”
(1,23) até à consumação da História (28,20); é o Mestre por excelência que
ensina com autoridade e interpreta o que a Lei e os Profetas afirmam acerca do
Reino do Céu (= Reino de Deus); é o Messias, no qual converge o passado, o
presente e o futuro e que, inaugurando o Reino de Deus, investe a comunidade
dos discípulos – a Igreja – do seu poder salvífico.
Assim, no
coração deste Evangelho o discípulo descobre Cristo ressuscitado, identificado
com Jesus de Nazaré, o Filho de Davi e o Messias esperado, vivo e presente na
comunidade eclesial.
O
Cristo revelado
Este Evangelho
apresenta Jesus como o cumprimento de todas as expectativas e esperanças
messiânicas. Mt estrutura cuidadosamente suas narrativas para revelar Jesus
como cumpridor de profecias específicas. Portanto, ele impregna seu Evangelho
tanto com citações quanto com alusões ao AT, introduzindo muitas delas com a
fórmula “para que se cumprisse”.
No Evangelho.
Jesus normalmente faz alusão a si mesmo como o Filho do Homem, uma referência
velada ao seu caráter messiânico (Dn 7.13,14). O termo não somente permitiu a
Jesus evitar mal-entendidos comuns originados de títulos messiânicos populares,
como possibilitou-lhe interpretar tanto sua missão de redenção (como em 17,12.22;
20,28; 26,24) quanto seu retorno na glória (como em 13,41; 16,27; 19,28; 24,30.44;
26,64).
O uso do título
“Filho de Deus” por Mt sublinha claramente a divindade de Jesus (1,23; 2,15; 3,17;
16,16). Como o Filho, Jesus tem um relacionamento direto e sem mediação com o
Pai (11,27).
Mt apresenta
Jesus como o Senhor e Mestre da igreja, a nova comunidade, que é chamada a
viver nova ética do Reino dos céus. Jesus declara: “a igreja” como seu
instrumento selecionado para cumprir os objetivos de Deus na Terra (16,18; 18,15-20).
O Evangelho de Mt pode ter servido como manual de ensino para a igreja antiga,
incluindo a surpreendente Grande Comissão (28,12-20), que é a garantia da
presença viva de Jesus.
O
Espírito Santo
A atividade do
ES é evidente em cada fase e ministério de Jesus. Foi por meio do poder do
Espírito que Jesus foi concebido no ventre de Maria (1,18-20).
Antes de Jesus
começar seu ministério público, ele foi tomado pelo Espírito de Deus (3,16) e
foi conduzido ao deserto para ser tentado pelo diabo como preparação adicional
a seu papel messiânico (4,1). O poder do Espírito habilitou Jesus a curar (12,15-21)
e a expulsar demônios (12,28).
Da mesma forma
que João imergia seus seguidores na água, Jesus imergirá seus seguidores no ES
(3,11). Em 7,21-23, encontramos uma advertência dirigida contra os falsos
carismáticos, aqueles que na igreja, profetizam, expulsam demônios e fazem
milagres, mas não fazem a vontade do Pai.
Presumivelmente,
o mesmo ES que inspira atividades carismáticas também deve permitir que as
pessoas da igreja façam a vontade de Deus (7,21).
Jesus declarou
que suas obras eram feitas sob o poder do ES, evidenciando que o Reino de Deus
havia chegado e que o poder de satanás estava sendo derrotado. Portanto,
atribuir o poder do ES ao diabo era cometer um pecado imperdoável (12,28-32).
Em 12,28, o ES
está ligado ao exorcismo de Jesus e à presente realidade do Reino de Deus, não
apenas pelo fato do exorcismo em si, pois os filhos dos fariseus (discípulos)
também praticavam exorcismo (12,27). Mas precisamente, o ES está executando um
novo acontecimento com o Messias—”é chegado a vós o Reino de Deus” (v.28).
Finalmente, o ES
é encontrado na dinâmica da missão (28,16-20). Os discípulos são ordenados a ir
e a fazer discípulos de todas as nações, “batizando-os em nome do Pai, do Filho
e do ES” (v.19). Isto é, eles deveriam batizá-los “no/com referência ao “ nome—
ou autoridade– do Deus Uno e Trino. Em sua obediência a esta missão, os
discípulos de Jesus têm garantida sua constante presença com eles.
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