Recentemente, em visita a Morro
de Chapéu, Bahia, vivi, não somente a alegria de desfrutar de seu agradável
clima e das suas belas paisagens, mas também a alegria da experiência de estar
à mesa. Não sei porque, mas naquele dia a mesa, enquanto local de encontro,
falou tanto ao meu coração. De um momento ao outro, fui tomado por uma alegria
de estar ali, saboreando algumas guloseimas e partilhando a vida da família que
me acolhia.
As refeições têm um caráter
social. Não são simplesmente para satisfazer as nossas necessidades nutritivas,
mas se constituem em momentos de encontro, nos quais partilhamos, não somente
os alimentos, como também a própria vida. A mesa torna-se, assim, um espaço
sagrado, porque lugar onde nos damos e geramos comunhão.
Desse modo, não é simplesmente o
corpo que é fortalecido, mas também a alma. São nutridos os afetos,
fortalecidos os laços familiares, intensificadas as amizades, pelo simples fato
das pessoas buscarem estar juntas, de frente umas para as outras, sendo assim
companheiras reciprocamente. Aliás, a própria palavra companheira, formada por
dois vocábulos, (cum panis) está ligada à mesa pelo fato de literalmente
significar aquele com quem dividimos o pão.
Na verdade, a mesa deveria
tornar-nos companheiros, fazendo-nos crescer na intimidade, à medida que
participamos do mesmo pão. Contudo, como se não bastasse o ritmo frenético e
estressante dos nossos dias, que não nos fazem estar à mesa por muito tempo,
nem nos mesmos horários, encontramo-nos perante um invasor ou alguns invasores
que têm obscurecido o belo sentido de estar à mesa. Trata-se da televisão e dos
telefones celulares e outros aparelhos que possibilitam a conexão com outras
pessoas alhures.
São verdadeiras “refeições de
corpo presente”, pois o espírito está sintonizado no que é notícia, no programa
de humor ou no filme e na telenovela que chama a atenção pela sua trama.
Através dos aparelhos de comunicação, permanece-se, bem sintonizado com quem
não se vê, que está do outro lado, do que com quem se está defronte. É o
paradoxo da comunicação moderna.
É preciso recuperar a beleza da
mesa, que deve tornar-se “sacramento” do amor que é uma força que conduz ao
encontro, à relação, à comunhão de vidas. É preciso que na própria configuração
da nossa casa não deixemos que o televisor tome assento na sala de refeição. Faz-se
mister também, educar as novas gerações, fazendo-lhes perceber que a
comunicação on line não pode substituir a comunicação “tete a Tete”, muito mais
rica e enriquecedora.
A mesa nos lembra que fomos
feitos não para viver na solidão, mas na comunhão. Interessante que o próprio
Cristo quis estar conosco, convidando-nos a sentar-se com Ele à mesa, todos os
domingos na Eucaristia. Sejamos seus comensais, participando da mesa sagrada,
cujo alimento é o próprio Senhor. Façamos também da mesa de nossa casa
eucaristia, convidando o Cristo, e não o televisor, a estar conosco e com Ele e
nele interagirmos com os que se assentarem conosco, procurando aquecer-lhe o
coração com a partilha do que se tem, e, sobretudo, do que se é.
Pe. Pedro Moraes Brito Júnior
pepedrojr@hotmail.com
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