“O
Verbo se fez carne e armou sua tenda no meio de nós”
Embora sejamos
muito mais familiarizados com as leituras de Lucas, referente ao nascimento do
Salvador em Belém, na realidade o Evangelho da Missa do Dia, tirado do prólogo
de João, nos traz o sentido profundo dos eventos do primeiro Natal.
O texto gira ao
redor do “Verbo” ou “Palavra” – “Logos” em grego. Enquanto Marcos
somente começa o seu relato do Evangelho de Jesus com o seu batismo e Lucas e
Mateus remontam até a sua concepção, o Quarto Evangelho liga Jesus à sua
preexistência, desde o começo:
“No princípio já
existia a Palavra, e a Palavra estava com Deus. E a Palavra era Deus. A Palavra
se fez homem e armou sua tenda entre nós.” (1, 1.14)
Mesmo que se expresse
sobre Jesus em termos não tão familiares para nós (Verbo, ou Palavra), João se
coloca bem na tradição do Antigo Testamento. Embora use a palavra grega “Logos”, para expressar a identidade de
Jesus como o Verbo, na sua mente não está uma discussão abstrata sobre o Logos
dos filósofos gregos, mas muito mais o sentido teológico do termo hebraico “Dabar”, que indica a Palavra criadora,
congregadora e libertadora de Deus, expressão do Deus de amor de libertação.
O projeto de Deus
acontece quando essa palavra se fez homem, armou a sua tenda (ou acampou) entre
nós. O verbo grego usado “eskênôsen”
deriva-se do termo “skêne, que
significa uma tenda de campanha. Na visão do Quarto Evangelho, A Palavra, o
Verbo Divino, “armou sua tenda” no meio da humanidade, não “ergueu o seu Templo”!
Templo é fixo, tenda é móvel, ou seja, aonde o povo anda, lá estará a Palavra
Viva de Deus, encarnada na pessoa e projeto de Jesus de Nazaré. N’Ele e por Ele
a Palavra Criadora age, operando a salvação aqui na terra. Podemos afirmar que
o mistério da Palavra tem agora como centro a Pessoa de Jesus Cristo,
inseparável da sua missão e projeto.
Mas, essa
encarnação tornou-se o divisor das águas para a humanidade. Pois. “Veio aos
seus e os seus não a acolheram”. Assim, o texto desafia qualquer acomodação que
porventura possa existir entre os cristãos, pois “acolher” a Palavra encarnada
não é em primeiro lugar uma crença intelectual; mas, o assumir de um projeto de
vida, o seguimento de Jesus de Nazaré. É uma adesão radical à pessoa e missão
de Jesus, continuada em nós hoje. Como diz o Evangelho de Mateus, “nem todo
aquele que me disser “Senhor, Senhor!” entrará no reino de Deus, mas aquele que
cumprir a vontade de meu Pai do céu” (Mt 7, 21).
O nosso texto nos
anima para que não esfriemos no seguimento de Jesus, e nos diz: “Aos que a
receberam, os tornou capazes de ser filhos de Deus; os que creram n’Ele, os que
não nasceram do sangue, nem do desejo da carne, nem do desejo do homem, mas de
Deus” (Jo 1, 12s).
Que a celebração da
grande festa de hoje nos confirme na nossa fé, nesse Deus que se encarnou entre
nós, “tomando a condição de escravo, fazendo-se semelhante aos homens” (Fl 2,
7) e como resultado dessa renovação espiritual nos encoraje para continuarmos
na luta para criar o mundo que Deus quer - de justiça, solidariedade e
fraternidade, no caminho do Reino, onde “todos tenham a vida e a tenham em
abundância” (Jo 10, 10). Como nos diz Hebreus: “Corramos com perseverança na
corrida, mantendo os olhos fixos em Jesus, autor e consumidor da fé... Para que
vocês não se cansem e não percam o ânimo, pensem atentamente em Jesus”(Hb 12,
1-3)
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