sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

QUARTO DOMINGO DO ADVENTO


Lucas 1,39-45
“Bendito o fruto do seu ventre!”

Para entender bem a finalidade de Lucas em relatar os eventos ligados à concepção e nascimento de Jesus, é essencial conhecer algo da sua visão teológica. Para ele, o importante é acentuar o grande contraste, e também a continuidade entre a Antiga e a Nova Aliança. A primeira está retratada nos eventos que giram ao redor do nascimento de João Batista, e tem os seus representantes em Isabel, Zacarias e João; a segunda está nos relatos do nascimento de Jesus, com as figuras de Maria, José e Jesus. Para Lucas, a Antiga Aliança está esgotada; os seus símbolos são Isabel, estéril e idosa; Zacarias, sacerdote que não acredita no anúncio do anjo; e o neném que será um profeta, figura típica do Antigo Testamento. Em contraste, a Nova Aliança tem como símbolos a virgem jovem de Nazaré que acredita e cujo filho será o próprio Filho de Deus. Mais adiante, Lucas enfatiza este contraste nas figuras de Ana e Simeão, no Templo (Lc 2, 25-38), quando Simeão reza: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar o teu servo partir em paz porque meus olhos viram a tua salvação.” (2, 29)
Assim, não devemos reduzir o texto de hoje a um relato que pretende mostrar a caridade de Maria em cuidar da sua parente idosa e grávida. Se a finalidade de Lucas fosse mostrar Maria como modelo de caridade, não teria colocado versículo 56, que mostra ela deixando Isabel na hora de maior necessidade: “Maria ficou três meses com Isabel; e depois voltou para casa.”
Também não é verossímil que uma moça judia de mais ou menos quatorze anos enfrentasse uma viagem tão perigosa como a de Galiléia à Judéia! A intenção de Lucas é literária e teológica. Ele coloca juntas as duas gestantes, para que ambas possam louvar a Deus pela Sua ação nas suas vidas, e para que fique claro que o filho de Isabel é o precursor do filho de Maria. Por isso, Lucas tira Maria de cena antes do nascimento de João, para que cada relato tenha somente as suas personagens principais: de um lado, Isabel, Zacarias e João; do outro lado, Maria, José e Jesus.
O fato que a criança “se agitou” no ventre de Isabel faz recordar algo semelhante na história de Rebeca, quando Esaú e Jacó “pulavam” no seu ventre, na tradução da Septuaginta de Gn 25, 22. O contexto, especialmente versículo 43, salienta que João reconhece que Jesus é o seu Senhor. Com a iluminação do Espírito Santo, Isabel pode interpretar a “agitação” de João no seu ventre - é porque Maria está carregando o Senhor. As palavras referentes a Maria: “Você é bendita entre as mulheres, e bendito é o fruto do seu ventre” (v. 42) fazem lembrar mais duas mulheres que ajudaram na libertação do seu povo, no Antigo Testamento: Jael (Jz 5, 24) e Judite (Jd 13, 18). Aqui Isabel louva a Maria que traz no seu ventre o libertador definitivo do seu povo.
Finalmente, vale destacar o motivo pelo qual Isabel chama Maria de “bem-aventurada” (v. 45): “Bem-aventurada aquela que acreditou.” Maria é bendita em primeira lugar, não pela sua maternidade somente, mas pela fé, em contraste com Zacarias, que não acreditou. Assim, Lucas apresenta Maria principalmente como modelo de fé. Notemos que neste capítulo primeiro nós encontramos - na Bíblia - frases que podem fundamentar uma compreensão correta da visão bíblica da pessoa e função de Maria, que pode unir em lugar de dividir cristãos das diversas confissões: “Ave Maria” (1, 28); “Cheia de graça” (1, 28); “O Senhor é convosco” (1, 28); “Bendita sois vós entre as mulheres” (1, 42); “Bendito o fruto do vosso ventre” (1, 42). Lucas nos apresenta a mãe do Senhor como modelo de fé para todos nós!

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