Lucas 10,1-12.17-20
“O Senhor os enviou
dois a dois”
O discípulo
existe para a missão, e não se entende fora dela. Jesus não cogitava levar adiante a sua missão
sem a colaboração, não só dos Apóstolos, mas de muitos discípulos e discípulas. É assim ainda hoje - a missão de evangelização
não compete somente aos que são constituídos oficialmente como pastores da
Igreja, mas a todos, em virtude do nosso batismo. É uma tarefa comunitária - simbolizada pelo
fato que Jesus não mandou os setenta e dois discípulos individualmente, mas de
dois a dois.
Se naquela época a colheita já era
grande, o que dizer de hoje? O que diria
Jesus das massas enormes dos conglomerados urbanos, as selvas de pedra que são
as nossas grandes áreas metropolitanas, com os seus bolsões de miséria, as suas
massas sobrantes, a seu anonimato? Mais
do que nunca torna-se urgente o pedido do Senhor:“Peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita”( v 2)
Não devemos
reduzir este pedido à oração pelas vocações sacerdotais e religiosas, por tão
necessárias que sejam, mas peçamos que todos os cristãos assumam a sua missão
de ser continuadores da missão de Jesus, no mundo de hoje. Pois é possível que o “dono da colheita”
mande operários, e que eles recusem de ir!!
Jesus disse que estava mandando-os como “cordeiros entre lobos”- uma missão aparentemente impossível! Continua a fazê-lo - pois quem vive a
mensagem evangélica humanamente falando é cordeiro diante dos lobos vorazes do “evangelho”
de competitividade e lucro, os violentos partidários da concentração das terras
e da renda! Mas esta fraqueza é a
fraqueza de Deus que, mais tarde, Paulo descreveria como “mais forte do que os homens”( 1 Cor 1,26)!
Os discípulos evangelizadores não iam
como conquistadores ou dominadores, não iam com a força das armas, como
infelizmente aconteceu tanto na história do Brasil e da América Latina.
Trouxeram a mensagem da “paz” - não a paz como “o mundo a dá”, mas o “Shalom”,
a paz que só pode vir da presença de Deus, a paz que pode existir no meio de
sofrimento, a paz que ninguém pode tirar.
Eles deviam assumir a condição dos seus ouvintes, não ir de casa em casa
em busca de “coisa melhor”. Pois a
missão e o discipulado, exigem desprendimento e encarnação.
A proclamação deles, onde eram bem
recebidos, era “O Reino de Deus está
próximo”!! Pois onde existe qualquer
gesto de amor, de fraternidade, de solidariedade, existe já o Reinado de
Deus. Só o fato de alguém abrir-se para
o Evangelho traz a presença do Reino; só o fato de alguém se dispor a levar o
Evangelho, faz presente o Reino! Pois o
Reino não se constrói de coisas extraordinárias, mas de pequenos gestos. As armas do evangelizador não são “qualidade
total”, eficiência, eficácia humana, razão instrumental, - mas amor,
solidariedade, acolhida. Evangelizar não é em primeiro lugar propagar uma
doutrina, mas tornar presente a pessoa e o projeto de Jesus de Nazaré.
Mesmo rejeitados, os discípulos deviam
proclamar: “Apesar disso, saibam que o
Reino de Deus está próximo”. Pois
nada pode impedir o crescimento do Reino, que é como “a semente que o agricultor semeia. Ele dorme e ela cresce sem que ele
saiba como”. Isso nos deve animar
muito como evangelizadores. É preciso
que nós semeeimos, sem nos preocuparmos com os resultados, pois “Paulo é quem planta, Apolo rega, mas é Deus
que faz crescer” (cf. 1 Cor 3,6).
Quem se esforça na evangelização pode
cansar, pode sofrer, mas terá uma alegria profunda: “E os setenta e dois voltaram muito alegres, dizendo: “Senhor, até os
demônios obedeçam a nós por causa do teu nome” ( v. 17). Porém, a motivo da alegria não deve ser
por causa dos prodígios feitos, mesmo quando podemos “pisar em cima de cobras e escorpiões” (v. 19), mas porque, pela
força do Evangelho, conseguimos expulsar os demônios do mal, da opressão, da
divisão, do ciúme, que destroem o relacionamento humano. Devemos sentir alegria porque o Reino está
crescendo inexoravelmente, - e somos instrumentos deste Reino. Sejamos, seja qual for a nossa vocação,
situação ou profissão, “trabalhadores da
colheita”. Pois não há cristão que
seja dispensado deste desafio, nem lugar ou situação que não possam ser
evangelizados!
Tomaz Hughes SVD
e-mail: thughes@netpar.com.br
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