FESTA
DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO (01.07.12)
Mt 16, 13-19
Hoje a Igreja celebra a festa de dois grandes
apóstolos, Pedro e Paulo, este grande evangelizador dos pagãos ou gentios, e
aquele do seu próprio povo. Como evangelho do dia, escolheu-se a história do
caminho de Cesaréia de Felipe. O relato mais antigo está no Evangelho de
Marcos, Cap. 8 vv 27-38, o qual se tornou o pivô de todo o Evangelho. A
estrutura de Mateus é diferente, mas, o relato tem a mesma finalidade, ou seja,
ajudar os ouvintes e leitores a clarificar quem é Jesus e o que significa ser
discípulo ou discípula d’Ele.
A pedagogia
do relato é interessante. Primeiro, Jesus faz uma pergunta bastante inócua:
“Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?” Assim, vem muita resposta, pois
responder essa pergunta não compromete, pois é o “diz que”. Mas, a segunda
pergunta traz a facada: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Agora não vêm muitas
respostas, pois quem responde em nome pessoal, e não dos outros, se compromete!
Somente Pedro se arrisca e proclama a verdade sobre Jesus: “Tu és o Messias, o
Filho do Deus vivo”. Aparentemente Pedro acertou, e realmente, em Mateus, Jesus
confirma a verdade do que proclamou! Afirmou que foi através de uma revelação
do Pai que Pedro fez a sua profissão de fé. Mas, para que entendamos bem o
trecho, é necessário que continuemos a leitura pelo menos até v. 25. Pois o
assunto é mais complicado do que possa parecer.
Pois após
afirmar que Pedro tinha falado a verdade, Jesus logo explica o que significa
ser o Messias ( ou, em grego, o Cristo). Não era ser glorioso, triunfante e
poderoso, conforme os critérios deste mundo. Muito pelo contrário, era ser fiel
à sua vocação como Servo de Javé, era ser preso, torturado e assassinado, era dar
a vida em favor de muitos. Jesus confirmou que ele era o Messias, mas não da
maneira que Pedro esperava e queria. Ele, conforme as expectativas do povo do
seu tempo, queria um Messias forte e dominador, não um que pudesse ir, e levar
os seus seguidores também, até a Cruz! Por isso, Pedro reluta com Jesus,
pedindo que nada disso acontecesse. Como recompensa, ganha uma das frases mais
duras da Bíblia: “Afasta-se de mim, Satanás, você é uma pedra de tropeço para
mim, pois não pensa as coisas de Deus, mas dos homens!” (v. 23). Pedro, cuja
proclamação de fé mereceu ser chamada a pedra fundamental da Igreja (v. 18), é
agora chamado de Satanás - o Tentador por excelência - e “pedra de tropeço”
para Jesus! Pedro usava o título certo, mas tinha a compreensão errada! Usando
os nossos termos de hoje, de uma forma um tanto anacrônica, podemos dizer que
ele tinha ortodoxia, mas não, ortopraxis!
Assim, Jesus
usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa ser seguidor d’Ele: “Se
alguém quer me seguir, renuncie a se mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (v.
24). Ter fé em Jesus não é em primeiro lugar um exercício intelectual ou
teológico, mas uma prática, o seguimento d’Ele na construção do seu projeto,
até às últimas consequências.
Hoje,
enquanto celebramos os nossos dois grandes missionários, a pergunta de Jesus
ressoa forte - a segunda pergunta. Para nós, quem é Jesus? Não para o
catecismo, não para o papa ou o bispo, mas para cada de nós, pessoalmente? No
fundo, a resposta se dá, não com palavras, mas pela maneira em que vivemos e
nos comprometemos com o projeto de Jesus - ele que veio para que todos tivessem
a vida e a vida plenamente!(Jo 10, 10). Cuidemos para que não caiamos na
tentação do equívoco de Pedro, a de usar termos corretos, mas com a compreensão
errada!
Tomaz Hughes SVD
thughes@netpar.com.br
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