VIGÉSIMO
OITAVO DOMINGO COMUM (14.10.12)
Mc
10, 17-30
O
nosso texto inicia-se com a frase: “Quando Jesus saiu de novo a caminhar”. Mais
uma vez estamos na caminhada com Jesus, na caminhada que é uma aprendizagem
para o discipulado, uma caminhada que o leva cada vez mais perto a Jerusalém,
lugar da crise definitiva da sua vida. Ao longo dessa caminhada, Jesus luta com
a incompreensão dos seus discípulos, até dos mais chegados a Ele, pois a
mentalidade deles era formada pela ideologia dominante, e assim tinham a maior
dificuldade em apreciar a reviravolta de valores que Jesus e a sua mensagem
significavam. Nos domingos anteriores, vimos essa tensão no trato das questões
do poder, do divórcio, das crianças. No nosso texto de hoje, Jesus põe em
cheque o ensinamento comum sobre a riqueza e a pobreza.
A cena é muito
conhecida - um homem pede orientação sobre como entrar na vida eterna. Em um
primeiro momento, Jesus coloca diante dele a exigência conhecida por todo judeu
piedoso e ensinada pelas escolas rabínicas - o cumprimento dos mandamentos. Mas
o homem - sem dúvida um praticante piedoso da Lei - sente que isso não é o
suficiente, antes, é o mínimo. Assim, Jesus põe diante dele as exigências do
Reino - o seguimento d’Ele, o despojamento dos bens, a partilha e a
solidariedade. Isso o homem é incapaz de aceitar. Estava amarrado aos seus
bens, pois era muito rico (v. 22). Fez a sua opção - optou por uma vida
“regular” que não exigisse partilha nem despojamento, e como consequência foi
embora “muito abatido” - pois tinha colocado bens secundários acima do bem
maior.
Porém, o
centro do relato está no debate entre Jesus e os discípulos d’Ele. O Mestre
afirma que “é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um
rico entrar no Reino de Deus!” (v. 25). Muitas vezes gastamos tanta energia em
debater o que significa “o buraco da agulha” (quase sempre tentando diminuir o
seu impacto!) e deixamos de lado o aspecto mais importante - a reação dos
discípulos! Eles ficaram “muito espantados” quando ouviram isso e se
perguntaram “então quem pode ser salvo?”. Por que ficaram espantados? O que
houve de espantoso na colocação de Jesus? Aqui está o âmago da questão.
O espanto dos
discípulos - também todos judeus praticantes e piedosos - era causado pelo fato
de que, na ideologia religiosa vigente, a riqueza era considerada sinal da
bênção de Deus, e a pobreza como sinal da maldição (uma ideia presente em
certas seitas hoje e que às vezes infiltra certas pregações sobre o dízimo na
própria Igreja Católica!). Para eles, quem não iria se salvar era o pobre, pois
o rico era abençoado. Aqui é bom lembrar que se trata de “entrar no Reino de
Deus”, o que não é sinônimo de salvação eterna. A salvação depende da
gratuidade e misericórdia de Deus, e diante de tal mistério só cabe à gente
calar-se. Mas, o Reino de Deus deve ser uma experiência já existente entre nós,
mesmo que não em plenitude, e que significa experimentar na vida os valores do Reino.
O rico dificilmente entra nesta dinâmica porque normalmente é auto-suficiente,
atrelado a um sistema classista e injusto, e com grande dificuldade tanto de
repartir como de sentir a sua dependência de Deus.
A proposta de
Jesus desafia as ideologias que veem a riqueza como sinal da bênção de Deus. A
proposta d’Ele não é a riqueza, mas a partilha; não é a acumulação, mas a
solidariedade e a justiça, para que todos possam ter o suficiente. O texto
deixa claro que quem quer viver esta proposta vai sofrer, pois o mundo não vai
aceitá-la. Quem segue Jesus na prática da solidariedade, encontra uma
felicidade mais duradoura, mas com perseguição; porém, já vive a certeza da
plenitude do Reino que virá (v. 29-31).
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