Notícias
do Sínodo dos Bispos 02 - Pe. Lima
Hoje,
08 de Outubro, pela manhã realizaram-se as 2 primeiras sessões. Teve início com
a récita da Hora Média (Tercia), cujo
hino foi substituído pelo Veni Creator
Spiritus, cantado em gregoriano pela Assembleia, acompanhado por coral a 4
vozes. Pode parecer estranho, mas é o
único momento de oração em comum durante o Sínodo, pois a Missa e demais
orações (laudes e vésperas) são rezadas nas casas onde cada um se hospeda. A
Santa Eucaristia foi concelebrada por todos participantes do Sínodo somente
ontem na Abertura; uma outra será no dia 11 comemorando os 50 anos do Concílio
Vaticano II e os 20 anos do Catecismo da
Igreja Católica, e uma última no encerramento. Também as refeições, exceto o
cafezinho (abundantíssimo...) da
manhã e da tarde, são feitas também nas residências de cada um.
Após
a leitura breve da Tercia, Bento XVI,
que preside as sessões, fez uma bela homilia, falando ex abundantia cordis, ou seja, improvisamente e sem nenhum texto em
mãos. Durante 15 minutos falou do significado da palavra evangelização e
evangelizar na cultura antiga e no Novo Testamento, e principalmente em São
Lucas que anunciando o nascimento de Jesus, descreve-o como o nascimento do
verdadeiro imperador que vem trazer uma Boa Nova de Salvação, de Redenção; é a
presença de Deus no hoje de nossa vida.
Para
ilustrar como essa Boa Nova pode ser anunciada aos homens de hoje, recorreu ao
hino da hora tercia "Nunc,
sancte, nobis, Spiritus, unum Patri cum Filio....". A Igreja não começou
com uma reunião, concílio ou sínodo... mas com Pentecostes, com a ação do
Espírito Santo, e não haverá Nova Evangelização sem um novo Pentecostes. Deus
continua falando aos homens hoje, e nós somos apenas colaboradores: é uma ação teândrica (de Deus e dos homens). A
segunda estrofe desse hino fala em confissão
da fé e não simples profissão de fé.
A confissão de fé implica nosso
envolvimento, nosso testemunho, disponibilidade. Ela deve estar, como diz o
hino, em nossa boca, língua, mente, sentidos, vigor... ou seja, a fé deve ser
confessada na vida plenamente: além do coração,
deve passar também pela mente, ser iluminada pela inteligência (mens.... teologia). Os santos padres
diziam que a fé, a Palavra de Deus pode ser saboreada até pelos sentidos (sensus, vigor).
A
outra coluna da evangelização é o amor (cáritas)...
o hino fala de fogo, paixão. O
próprio Jesus disse que veio trazer fogo à
terra: a fé é chama de amor que
acende todo nosso ser para comunicá-la aos outros. A realidade e o símbolo do
fogo aparecem em todas as culturas. Lucas fala do fogo de Pentecostes: é o Espírito
que aquece e faz entender todas as coisas. Ao final o hino de tercia pede que esse fogo do Espírito
que arde em nossa fé torne-se visível ao mundo... Não haverá evangelização sem
esse fogo do Espírito que arde no coração de cada evangelizador.
Houve,
a seguir, uma saudação ao Papa pelo Presidente Delegado do dia, Card. John Tong Hon, Bispo de Hong Kong (China) que
falou em latim. Aliás, todas as grandes conferências desse dia foram em latim
(sempre com tradução simultânea), e isso foi criticado por muita gente, pois
pouquíssimos, mesmo na cúpula da Igreja, estão habituados a essa língua oficial
da Igreja, fora das orações tradicionais... O cardeal chinês relatou experiências
de nova evangelização em Hong Kong, a partir das três categorias do Novo
Testamento: didaqué, koinonia e diakonia.
Seguiu-se a primeira
relação (primeira grande conferência), pelo Secretário Geral do Sínodo, Dom
Nicola Etérovic. Em primeiro lugar, apresentou os números oficiais dos
participantes do Sínodo: 182 padres sinodais, dos quais 172 eleitos pelas
Conferências Episcopais e 10 pela União dos Superiores Gerais. Dos outros, 40
foram eleitos pelo Papa, 37 participam ex
officio (possuem cargos na Cúria Romana) e 3 designados pelas Igrejas
Católicas Orientais. De todos esses, 6 são patriarcas, 49 cardeais, 3
arcebispos maiores, 71 arcebispos, 120 bispos e 14 sacerdotes. Fazem parte
também do Sínodo: 20 delegados fraternos representantes
de igrejas e comunidades eclesiais que partilham conosco, católicos, as
preocupações pela Evangelização. Compõem ainda o Sínodo: 45 especialistas e
consultores, 49 ouvintes (mulheres e homens) e um inúmero batalhão de
assistentes, técnicos, tradutores e colaboradores da Secretaria Geral. A
seguir, falou das atividades da Secretaria Geral, principalmente na preparação
dessa XIII Assembleia (redação dos Lineamenta
e do Instrumento de Trabalho).
Na segunda parte da manhã, o Relator Geral do
Sínodo, Card. Donald William Wuerl, arcebispo de Washington, apresenta a Relação antes das discussões, ilustrando
o tema do Sínodo. Desenvolve esses pontos: 1) O quê e Quem proclamamos: a Palavra
de Deus; 2) Recursos recentes para ajudar-nos nessa tarefa; 3) Circunstâncias
especiais do nosso tempo que justificam esse Sínodo; 4) Elementos da Nova
Evangelização; 5) Fundamentos Teológicos da Nova Evangelização; 6) Qualidades
dos novos Evangelizadores e 7) Carismas
da Igreja hoje requeridos no exercício da Nova Evangelização.
Após o almoço, foi feita uma reunião com os
secretários e distribuidos os trabalhos que cada um deve fazer; a mim foi
confiado o tema do "ministério da catequese e sua possível institucionalização
na Igreja", tema que o Instrumento
de Trabalho pede para ser discutido no Sínodo. Na parte da tarde, cinco
palestrantes, durante 10 ou 15 minutos, usando uma das cinco línguas oficiais
(italiano, francês, espanhol, alemão e inglês) falaram da situação da
evangelização em cada um dos cinco continentes.
Chamou a atenção a palestra do Card. Péter Erdö sobre
a Europa: relevou a "perda da memória da herança cristã" nesse
continente, com a consequente descristianização galopante, seguida de
hostilidade e de violência contra os cristãos em quase todos os países!
Referiu-se aos "direitos humanos de terceira e quarta geração... que já
não possuem laços com a visão humana e cristã do mundo nem com a moralidade
objetiva expressa nas categorias do direito natural". Por outro lado, tal
situação de crise religiosa unida à crise econômica e ao envelhecimento da
população, faz surgir uma "fome e sede de esperança" às quais o cristianismo pode dar grandes respostas.
Pelo Continente Americano falou o Arcebispo
Dom Carlos Aguiar Retes (Chile), desenvolvendo esses temas: 1) O grande
desafio: mudança de época e ruptura cultural; 2) Nova Evangelização exige
comunhão eclesial; 3) Um caminho incipiente e cheio de esperança na América
após o Concílio (de Medellín a Aparecida); 4) Os protagonistas da Nova
Evangelização (destaque para os leigos e a família); 5) Pontos cardeais da Nova
Evangelização: conversão pastoral e mudança de mentalidade, vivência litúrgica
e pastoral orgânica de participação e comunhão. Conclui dando relevância ao Catecismo da Igreja Católica e Compêndio da Doutrina Social da Igreja,
à vida de discípulos e aos programas e processos de formação cristã, sobretudo catequese, através de caminhos
mistagógicos.
A última hora do dia foi reservada a intervenções
livres. Sobressaíram os representantes do Oriente Médio e da África falando do sofrimento
dos cristãos nessas regiões, sobretudo devido ao fundamentalismo e fanatismo
islâmico hostil ao cristianismo, o que não poucas vezes gera martírio. O Cardeal
de São Paulo, Dom Odilo, falou da experiência de fé dos católicos de São Paulo
em celebrar a procissão de Corpus Christi mesmo num dos dias mais frios do ano
e debaixo de intermitente chuva. Tal ato de fé do Povo de Deus reforça também a
fé dos pastores; de fato, ele havia pensado em cancelar a procissão, mas devido
à maciça presença dos fiéis, foi mantida e realizada conforme a programação.
Os que atenderam a impressa, relaram o grande
interesse da mídia, ao menos no
início, pelo Sínodo. Não só, mas uma pergunta insistente, era: "como a
Igreja reage diante de uma sociedade cada vez mais secularizada e o que fará
para reverter esse quadro, o que a Igreja irá fazer para responder à sede de valores
que muitos hoje demonstram, o que fará para dar resposta aos problemas humanos,
aos jovens desorientados; quais são as soluções para reconciliar populações
inimigas para evitar a guerra, quais são os grandes projetos em favor da
paz...". Ou seja: parece que os próprios jornalistas estavam traçando a pauta do Sínodo. Sob esse ponto de
vista, a conference press foi um
sucesso!
A oração do Angelus
entoada pelo Papa, que participou o tempo todo, sempre atento e tomando
notas, e o canto do Salve Regina concluíram
esse dia de intenso trabalho sinodal.
Apesar das recomendações sobre o segredo a respeito
do que se trata no Sínodo, quase todo o material aqui veiculado, em poucas
horas podem ser encontrados na Internet. Assim, quem estiver interessado,
poderá acessar o site a seguir, onde encontrará todos os textos em castelhano,
com fotos dos palestrantes e muitas outras informações: http://sinodo2012.wordpress.com/?blogsub=confirming#subscribe-blog
Roma, 08 de Outubro de 2012.
Pe. Luiz
Alves de Lima, sdb
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