FESTA
DA NOSSA SENHORA APARECIDA (12.10.12)
Jo
2, 1-12
A primeira parte do Quarto Evangelho é comumente
chamada “O Livro dos Sinais”, pois, o
evangelista relata uma série de sete sinais que, passo por passo, revelam quem
é Jesus, e qual é a missão d’Ele (embora algumas bíblias traduzam o termo grego
por “milagre”, a tradução mais
correta é: “Sinal”). O primeiro
desses sinais aconteceu no contexto das bodas de Caná, o nosso texto de hoje.
Como quase todo o Evangelho de João, o relato está carregado de simbolismos,
onde pessoas, números e eventos funcionam simbolicamente, para nos levar além
da superfície das coisas, em uma caminhada de descoberta sobre a pessoa de
Jesus.
Um dos temas
centrais do quarto evangelho é o da “hora” de Jesus. A “hora” não se refere à
cronometria, mas à hora de glorificação de Jesus, por sua morte e ressurreição.
Em resposta ao pedido feito por Maria (note que João nunca se refere a Ela pelo
nome, mas pelo título “mulher”), usando de uma maneira um tanto estranha este
termo para a mãe d’Ele, João quer indicar que Jesus rejeita uma esfera
meramente humana de ação para Maria, para reservar para Ela um papel muito mais
rico, ou seja, o da mãe dos seus discípulos. Maria somente vai aparecer mais
uma vez neste evangelho - ao pé da cruz, onde Ela e o Discípulo Amado assumem
um relacionamento de Filho e Mãe. Devemos lembrar que o Discípulo Amado
simboliza a comunidade dos discípulos/as do Senhor.
Não devemos
reduzir a ação da Maria no texto à de uma incomparável intercessora. Embora
seja comum esta interpretação na devoção popular, não se sustenta do ponto de
vista exegético. É melhor ver Maria aqui como discípula exemplar, pois embora a
resposta de Jesus indique um distanciamento entre a sua expectativa e a visão
d’Ele, Ela continua com confiança n’Ele e leva outros a acreditar nele: “Façam
tudo o que Ele lhes disser”.
O simbolismo
da água tornada vinho é também importante. Não era qualquer água - era a água
da purificação dos judeus. Com essa história, João quer mostrar que doravante
os ritos judaicos de purificação estão superados, pois a verdadeira purificação
vem através de Jesus. Podemos entender isso como a mudança de uma prática
religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita gente
considerada impura, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir
de Jesus. Assim, em Caná Jesus começa a substituir as práticas do judaísmo do
Templo, o que vai continuar ao longo do Evangelho de João.
A
quantia do vinho chama a atenção - 600 litros! O vinho em abundância era
símbolo dos tempos messiânicos, e na tradição rabínica, a chegada do Messias
seria marcada por uma colheita abundante de uvas. Assim João quer dizer que a
expectativa messiânica se realiza em Jesus. E as talhas transbordantes
simbolizam a graça abundante que Jesus traz.
A figura do mestre-sala é também simbólica, bem
como a dos serventes. Aquele que devia saber a origem do vinho da festa, não o
sabia, enquanto estes, sabiam. Assim, o mestre-sala representa os chefes do
Templo que não sabiam a origem de Jesus enquanto os servos representam os
discípulos que acreditaram n’Ele.
Fazendo comparação entre o vinho antigo
e o novo, João quer reconhecer que a Antiga Aliança era boa, mas a Nova a
superou. Os ritos e práticas judaicos, ligados à purificação e ao sacrifício,
não têm mais sentido, pois uma nova era de relacionamento entre a humanidade e
Deus começou em Jesus.
O
ponto culminante do relato está em v. 11: “Foi em Caná que Jesus começou os
seus sinais, e os seus discípulo acreditaram n’Ele”. A fé deles não é
intelectual ou teórica, mas o seguimento concreto do Mestre, na formação de
novos relacionamentos de amor. Passo por passo, o autor vai revelando Jesus
através de sinais para que nós, os leitores, possamos “acreditar que Jesus é o
Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome”
(Jo 20, 31).
Pe. Tomaz Hughes SVD
E-mail: thughes@netpar.com.br
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