DÉCIMO
QUINTO DOMINGO COMUM (15.07.12)
Mc 6, 7-13
Estes
versículos dão início ao terceiro e último bloco da primeira parte do Evangelho
de Marcos,( 6,6b-8,21) que podemos intitular “a cegueira dos discípulos”. É a
continuidade dos primeiros dois blocos que tratavam da cegueira das autoridades
e dos parentes de Jesus. O nosso texto trata da missão dos discípulos. Vale a
pena examinar mais de perto as frases que Marcos usa.
O
primeiro elemento é que a missão de Jesus, o de construir o Reino de Deus,
continua na missão dos discípulos. A base da missão é o compromisso com Jesus e
o seu projeto. Em nossos termos hoje, cumpre lembrar que a origem da missão
está no nosso batismo. Todos somos Discípulos-Missionários. Se somos clero,
religiosos ou leigos é secundário. A missão comum vem do batismo comum de todos
nós. A maneira de vivenciarmos a missão pode ser diferente e variar; mas, a
missão é fundamentalmente igual.
Ele
os enviou dois a dois. Uma maneira bonita de mostrar que a missão cristã é
comunitária! Não existe um cristianismo individualista. A nossa fé tem
conseqüências profundas comunitárias. Um alerta para que não caiamos na
tentação de criarmos uma religião individualista e intimista, tão comum no
nosso mundo de competitividade e pós-modernidade.
Jesus
dava-lhes poder sobre os espíritos imundos! Claro, aqui se expressa uma
realidade importante nos termos da cosmovisão da época. “Espíritos imundos”
significam tudo que pudesse se opor ao Reino. Tudo cujos valores fossem
diferentes do Reino. Infelizmente, ainda hoje muitos interpretam essas palavras
ao pé da letra, e criam uma religião que sataniza e demoniza quase tudo, uma
religião de exorcismos e diabos - mas sempre no nível intimista e individual.
Devemos nos perguntar - quais os espíritos imundos em nós, nas nossas
comunidades, na nossa sociedade, que precisam ser expulsos? Não é difícil
achá-los: tudo que se opõe à vida, à dignidade humana, à justiça e à
solidariedade. Onde se vive o Evangelho, não há lugar para o espírito de
individualismo, de competitividade, de exclusão, que é característica da nossa
sociedade neoliberal, nossa sociedade de morte! O cristão não pode compactuar
com tal sociedade e com as suas estruturas. As nossas celebrações não são para
nos refugiarmos nelas, mas para nos fortalecermos na luta pelo mundo novo, pela
utopia de Jesus! Por isso, em primeiro lugar, os discípulos tinham que se
libertar do espírito de acúmulo - não levar coisas, como sinal da chegada do
Reino.
Mas,
Jesus os adverte que nem todos iriam acolher a sua mensagem - pois a mensagem
de Jesus necessariamente entra em conflito com o espírito do egoísmo, enraizado
na sociedade. Vale para os nossos tempos - uma Igreja comprometida com os
valores do Evangelho será uma Igreja rejeitada pelos poderes desse mundo.
Quando somos bem aceitos por todos, é porque não questionamos, porque perdemos
a nossa voz profética! A Igreja verdadeira suscita mártires (literalmente,
testemunhas) e não acomodados!
O
nosso texto nos convida a um exame de consciência sobre a “missionariedade” da
nossa vida. A minha vida, a da minha comunidade, se resumem na vivência interna
das estruturas da Igreja, ou me leva a ser testemunha no meio da sociedade,
profetizando e demonstrando a chegada do Reino, não tanto pelas palavras, mas
pelos valores que vivencio? Uma Igreja que não seja missionária (que não
significa ser prosélita) é uma Igreja morta. Lembremo-nos que, pelo batismo,
somos todos discípulos-missionários, continuadores da missão de Jesus!
Tomaz Hughes SVD
thughes@netpar.com.br
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