DÉCIMO
SÉTIMO DOMINGO COMUM (29.07.12)
Jo
6, 1-15
A liturgia de hoje interrompe as
leituras do Evangelho de Marcos e insere um trecho tirado do capítulo sexto de
João - o que comumente chamamos o milagre da “Multiplicação dos Pães”. Logo,
vale lembrar que este é o único milagre contado pelos quatro evangelhos, tanto
pela tradição sinótica como da Comunidade do Discípulo Amado. Isso mostra
claramente que, para as primeiras comunidades cristãs de diversas tradições, a
história hoje relatada possuía um grande valor e uma mensagem muito importante.
Os quatro relatos seguem basicamente
o mesmo fio da meada, com as divergências próprias a cada tradição e teologia.
O enfoque mais “sacramental” ou “eucarístico” é do João, mostrando mais uma vez
uma das características da comunidade do Discípulo Amado: a de ter uma teologia
eucarística mais desenvolvida.
Embora
seja um dos relatos mais conhecidos dos evangelhos, vale a pena sublinhar um
elemento que talvez possa parecer estranho: embora nós sempre nos refiramos ao
milagre da “multiplicação dos pães”, em nenhum dos quatro relatos usa-se o
verbo “multiplicar”! Usam-se outros termos nos quatro evangelhos: “pegar”,
“benzer” “distribuir”, “partilhar”! Não é o caso de discutir aqui o que foi que
Jesus fez! Nem teríamos condições de descobrir. O enfoque é outro. Se os
evangelistas tivessem colocado a ênfase sobre o “multiplicar”, ou seja, sobre o
estritamente milagroso, então a história não teria grandes conseqüências para
nós hoje, pois nós não temos o poder de fazer milagres! Mas, colocando a ênfase
sobre a o “partilhar” e o “distribuir”, então os evangelistas nos desafiam
hoje! Pois, partilhar e distribuir estão ao nosso alcance!
No Brasil, com tanta gente assolada
pela injustiça e miséria, não precisamos multiplicar nada! O Brasil não precisa
multiplicar terras - somos um dos maiores países do mundo! Nem precisa
multiplicar a renda - somos a oitava ou nona potência econômica do mundo! Não!
O que precisamos é de uma partilha e uma redistribuição das terras e da renda.
O que precisamos é uma mudança de mentalidade, de coração e das estruturas, e
não milagres paliativos. A história de João e dos outros evangelistas insiste
que a solução para a carência se acha na solidariedade, na partilha e na
redistribuição, a partir da nossa fé no Deus da Vida.
Outro elemento importante no relato
joanino do evento é a atuação do menino que tinha cinco pães de cevada e dois
peixinhos - o seu lanche. Mesmo sendo suficiente somente para ele, ele dispõe
dos pães e peixes, através do André. Esse gesto de partilha, abençoado por
Jesus, faz com que todos se fartem! O relato ressalta que foram pães de cevada
- a comido do pobre. Também aqui há uma releitura de um evento na vida do
profeta Eliseu, que também “multiplicou” pães de cevada (II Rs 4, 42-44.) Sem a
colaboração deste rapaz simples, oferecendo o pouco que tinha, Jesus não
poderia ter alimentado essas pessoas. Assim o texto nos desafia para
descobrirmos quais são os “cinco pães de cevada” que cada um tem, e de
colocá-los a serviço da comunidade. Quando todos partilham o pouco que têm,
sobrará! Quando cada um que tem algo segura para si, falta para muitos!
Já
mencionamos que João, colocando o relato no capítulo sexto, onde tem o discurso
do Pão da Vida, focaliza o aspecto eucarístico. Participar da Eucaristia é
comprometermo-nos com o mundo de solidariedade e partilha, onde os bens
materiais - mais do que suficientes - serão distribuídos e partilhados, criando
assim, de uma maneira real entre nós, o Reinado de Deus. Como diz um canto de
comunhão, “Comungar é tornar-se um perigo, viemos pra incomodar”. A mensagem da
“multiplicação” dos pães incomoda, e muito, pois aponta para as conseqüências
da nossa participação na Eucaristia!
Tomaz Hughes SVD
thughes@netpar.com.br
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